Em um UPDATE tardio a revista se defende e diz “Entendemos
que é nossa função instruir e munir adolescentes de autoestima e
conhecimento para que enfrentem com mais tranquilidade os dramas
relacionados à sua sexualidade. (…) De depoimentos como este, as garotas
tiram lições que serão aplicadas em sua vida. A deste post é: “não faça
nada contra a sua vontade” ou “tenha coragem de dizer não – ou você
pode se arrepender para sempre”. Ironicamente o nome da página na
internet é “Sexo – Perguntas e respostas” e qual foi a saída apontada
pela revista pra resolver o problema da tal “primeira vez ruim”? A
resposta pro estupro foi a vítima esperar o príncipe – aquele que não a
violentaria. Ou seja, ou espere o príncipe ou arrependa-se para sempre –
calada ou no máximo escrevendo um relato pra uma revista famosa.
Em primeiro lugar, reafirmando o
conteúdo tradicional e machista da revista, coloca a mulher no papel de
princesa na torre a espera do par perfeito, ou seja, enclausurando a
sexualidade feminina no alto do reino de Camelot a espera da espada
encantada. Como se o prazer feminino fosse dependente de um apego
emocional, romântico, submisso, diante da figura do masculino. Quando a
revista esquece de orientar o mais importante e único critério absoluto
para o prazer da mulher: seu consentimento diante da situação,
independente de como ou com quem seja- o critério é justamente ela dizer
sim!
Em segundo lugar, a revista assume saber
ser formadora de auto-estima e conhecimento. Nessa perspectiva, a
Capricho teria outra postura se tivesse algum ideal em orientar as
meninas a partir de uma visão auxiliar na quebra dos preconceitos da
sexualidade feminina, da heteronormatividade machista, munindo as jovens
a nunca aceitar ou naturalizar qualquer tipo de violência e se tornar
responsável pelas decisões que toma sobre seu corpo. Deveria orientar a
vítima que escreveu esse relato e meninas que passaram por algo
semelhante a procurarem uma delegacia da mulher e denunciarem o crime –
inclusive disponibilizando abaixo da matéria endereços das principais
delegacias do país.
Esse tipo de matéria, transvertida de
libertadora – afinal, mulheres falarem de sexo ainda é um tabu – cumpre
um papel extremamente conservador, reproduzindo a cultura do estupro que
vivemos no Brasil. Onde “goleiros Brunos” ou Gerald Thomas se sentem a
vontade pra matar amantes, enfiar a mão nas partes íntimas de repórteres
e depois se arrepender e culpar a vítima que ‘provocou’. Não há espaço
para mensagens implícitas – como a Capricho diz que deixou no UPDATE que
fez após a matéria – ou para o silencio.
Nós, da Assembleia Nacional de
Estudantes – Livre, achamos que a mensagem da Capricho está muito clara,
que a revista reproduz os padrões machistas que oprimem as mulheres
jovens diariamente e que diante de uma matéria como essa é preciso
repúdio! Esse tipo de matéria não só naturaliza como incentiva essa
cultura, portanto, a Capricho torna-se tão culpada quanto aquele que
comete o estupro, pois o consente e estimula por meio da naturalização.
É inegável que a Capricho não é a única,
e que essas revistas são formadoras de opinião. Mas também não há como
negar que, em geral, elas moldam a sexualidade de várias meninas
afirmando a relação de submissão machista. “Como agradar seu paquera?”;
“Ele não está afim de você: descubra o que está fazendo de
errado?”;”Truques para agarrar seu boy”; e por aí vai… O combate ao
machismo, a batalha pelos direitos iguais para as mulheres, também
perpassa combater esses tipos de matérias que circulam na internet
fazendo a cabeça da juventude que a lê.
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