segunda-feira, 21 de outubro de 2013
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Proxima aula!
Gente,
as duas próximas aulas serão no auditório do CRH, no campus da
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA, estrada de São
Lázaro.
Para quem não conhece, veja o mapa:
http://wikimapia.org/121326/ pt/ Faculdade-de-Filosofia-e-Ciênci as-Humanas-da-UFBA
Não esqueçam e se puderem avisem aos colegas!!
Qualquer duvida é só perguntar aqui!
Saudações!
Para quem não conhece, veja o mapa:
http://wikimapia.org/121326/
Não esqueçam e se puderem avisem aos colegas!!
Qualquer duvida é só perguntar aqui!
Saudações!
Primeiro júri popular brasileiro de caso de homofobia será julgado em BH
No próximo dia 27 deste mês, acontece em Belo Horizonte o primeiro júri
popular brasileiro de um crime de homofobia. O julgamento dos réus
Ricardo e Diego Athayde, pai e filho, será realizado no Fórum Lafayette,
11 anos após o assassinato do bailarino Igor Xavier, em Montes Claros,
no Norte de Minas. (...)
Link aqui .
Link aqui .
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
Professor que assumiu Homossexualidade é apedrejado até a morte!
A hipótese de crime homofóbico está sendo investigada
pela polícia. Aluna contou que o professor era uma pessoa divertida e
que amava o que fazia. "Ontem, durante a aula, ele estava tão alegre;
falou que iria viajar, é inacreditável"
Mais um crime bárbaro por homofobia. Leiam a matéria aqui.
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
terça-feira, 1 de outubro de 2013
É menino
É menino, a cara do pai, a cara da mãe, esse menino vai ser safado, só
quer saber das meninas, só brinca com as meninas, nem parece menino, mas
é menino, tem pipi de menino, tem que botar ele no futebol, não é
possível que ele odeie futebol, todo menino gosta de futebol, ele ainda
vai descobrir que gosta, tem que levar ele pro estádio, ele tem é que
passar mais tempo com o pai, isso é falta de pai, ele tem é que sair da
aba da mãe, ele tem é que ir pra uma escola só de meninos, isso é falta
de porrada, é impressão minha ou desde que ele entrou na escola de
meninos ele tá ainda mais menina, acho que ele passa tempo demais com
meninos, daí só quer saber de meninos, deve ser isso, é falta de
carinho, é falta de mulher, acho que ele tem que passar mais tempo com
as meninas, ele tem é que se apaixonar por uma menina, ele acha que
gosta de meninos porque ainda não encontrou a menina certa, se ele só se
dá bem com meninas deve ser porque gosta tanto de meninas que não
consegue sair de perto delas, já saquei qual é a dele, é muito esperto,
finge que é menina pra se aproveitar delas, esses são os piores, também
não precisava se vestir de menina, acho que ele tá exagerando, coitado
dos pais dele, o que é que eu vou falar pros seus avós, acho que o seu
avô se mata, pena que ainda não dá pra mandar pro Exército, tem que
botar no escoteiro que dali ele vai direto pro Exército, acho que nem o
escoteiro vai querer saber dele vestido desse jeito, não acredito que
ele quer mudar de nome, isso tem que resolver na terapia, deve ter sido
abusado na infância, tá querendo agredir os pais, espera que essa moda
passa, hoje em dia a pessoa é obrigada a ser bicha, parece que tem um
revolver na cabeça da criançada, é a ditadura gay, tá demorando a passar
essa moda, cresceu peito nele ou isso é uma meia, onde foi que os pais
erraram, ou quem errou foi a sociedade, a culpa é da televisão, a culpa é
da escola, a culpa é de algum tio que deve ter abusado dele, e não é
que ele dá uma mulher bonita, nem parece homem, já mandei meu marido
sair de perto dele, desculpa, eu me recuso a chamar ele de ela, eu vi
ele crescer, ele tem um negócio debaixo da saia, ele é menino, ele
sempre vai ser menino, essas coisas a gente não muda, essas coisas a
gente não muda, essas coisas não mudam a gente, essas coisas a gente é, a
gente é o que a gente for, é menina.
Veja aqui.
Veja aqui.
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
Pesquisa mostra que brasileiras não se veem nas propagandas da TV
Pesquisa nacional Data Popular, realizada em
parceria com o Instituto Patrícia Galvão, revela que 67% dos
entrevistados gostariam de ver mais morenas nas propagandas na TV, 51%
querem ver mais mulheres negras e 56% não acreditam que os anúncios
mostrem a mulher da vida real. Entre os homens e mulheres
entrevistados, 78% veem mais mulheres jovens nas propagandas e a maioria
gostaria de ver mais mulheres maduras.
Continua aqui!
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domingo, 29 de setembro de 2013
Documentário vai mostrar preconceito contra cabelo afrodescendente
Redação Correio Nagô – Universitários de Curitiba
(PR) estão procurando mulheres que já ouviram comentários pejorativos em
relação ao cabelo afro para participar do documentário "Qual é o Pente
Que Te Penteia?".
Definido como uma produção universitária independente, o documentários, segundo a produção, tem como objetivo “mostrar a relação da mulher afrodescendente com o seu cabelo”.
“A ideia é traduzir a diversidade, as peculiaridades da afrodescendência, ressaltando esse elemento forte, que é o cabelo. Uniremos as imagens aos depoimentos das mulheres a respeito de episódios em que foram vítimas de comentários de origem racista”, ressaltam.
A produção está à procura de mulheres afrodescendentes que: já ouviram comentários pejorativos em relação ao seu cabelo afro; cresceram duvidando do próprio potencial de beleza em função de uma incorporação do comportamento racista ainda presente na sociedade; compreendem a intensidade do simples ato de soltar os cabelos e como isso pode reforçar a sua identidade e que queiram contar seus relatos.
(...)
Definido como uma produção universitária independente, o documentários, segundo a produção, tem como objetivo “mostrar a relação da mulher afrodescendente com o seu cabelo”.
“A ideia é traduzir a diversidade, as peculiaridades da afrodescendência, ressaltando esse elemento forte, que é o cabelo. Uniremos as imagens aos depoimentos das mulheres a respeito de episódios em que foram vítimas de comentários de origem racista”, ressaltam.
A produção está à procura de mulheres afrodescendentes que: já ouviram comentários pejorativos em relação ao seu cabelo afro; cresceram duvidando do próprio potencial de beleza em função de uma incorporação do comportamento racista ainda presente na sociedade; compreendem a intensidade do simples ato de soltar os cabelos e como isso pode reforçar a sua identidade e que queiram contar seus relatos.
(...)
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
Cresce a distância entre rendimento de homens e mulheres, diz IBGE
Em outro movimento inverso ao de anos anteriores, cresceu a distância
entre o rendimento de homens e mulheres, apesar da maior inserção delas
no mercado de trabalho. O dado é mais um sinal de piora da desigualdade,
já apontada pelo aumento mais forte da renda dos mais ricos.
Elas ganhavam 73,9% da remuneração de homens em 2011 e passaram a receber uma fatia menor em 2012 --72,9%. O retrocesso, segundo o IBGE, se deve ao fato de que a renda das mulheres subiu menos do que a dos homens --5,8%, contra 6,3%, respectivamente.
Continuar lendo...
Elas ganhavam 73,9% da remuneração de homens em 2011 e passaram a receber uma fatia menor em 2012 --72,9%. O retrocesso, segundo o IBGE, se deve ao fato de que a renda das mulheres subiu menos do que a dos homens --5,8%, contra 6,3%, respectivamente.
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Deputados italianos se beijam em protesto contra a falta de direitos LGBT no país.
Um grupo de legisladores italianos promoveu um beijo coletivo para
interromper um debate que decorreu na última sexta-feira como protesto à
falta de leis na defesa da população LGBT italiana. Em causa está uma
medida aprovada, no dia anterior, que estende a lei de
anti-descriminação de 1993 aos casos de “crimes motivados por homofobia e
transfobia”. O jornal La Republica publicou que a lei foi aprovada com
354 votos contra 79, pela Câmara de Deputados. No entanto, o PdL,
Partido de Silvio Berlusconi, terá feito declarações no sentido da mesma
não ser aprovada pelo Senado italiano.
Um grupo de deputados do partido M5S (Movimento 5 Estrelas), como forma
de protesto ao possível chumbo da lei, levantou-se durante a discussão
para beijar e/ou abraçar uma pessoa do mesmo sexo, enquanto outras
seguraram cartazes apelando a “mais direitos” LGBT na Itália. Defendem a
“igualdade de direitos e dignidade sem género. Porque um beijo e um
abraço não devem ser assustadores”.
http://www.youtube.com/watch?v=b0_-LXgfWqs
Ainda que a lei venha a ser aprovada, os grupos LGBT têm-se manifestado
negativamente sobre o conteúdo do projecto, alegando que esta pode ser
uma lei “inútil”. Explicam que o projecto original, apresentado em
Outubro de 2012, terá sofrido alterações significativas por pressão dos
partidos da direita. Assim, a lei é considerada “perigosa” porque embora
penalize a homofobia e transfobia, não prevê a descriminação com base
na “orientação sexual” e “identidade de género”, conceitos que não são
omissos no projecto de lei.
Esta notícia surge numa altura em que a Itália, tem sido reconhecida
pela Amnistia Internacional, como um dos países mais
homofóbicos/transfóbicos na União Europeia. Falham, principalmente na
implementação de leis anti-disciminatórias com base na orientação sexual
e identidade de género, onde estes crimes não são considerados crimes
de ódio.
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
Negro gaúcho. Memória farroupilha ou lanceira?
Por Letícia Maria para as Blogueiras Negras
Baseado no discurso do senso comum, nas poucas vezes que sai do Rio Grande do Sul, fui olhada com estranhamento, quando me apresentava como gaúcha: em alguns lugares ainda se imagina que é um estado sem negros.
O Rio Grande do Sul é tido como o estado mais europeu do Brasil. É fato que as correntes migratórias foram fortes por aqui (açorianos em 1740, alemães em 1824, italianos em 1875). Mas antes desses imigrantes chegarem, diversas etnias indígenas já habitavam o território, além dos negros, que chegaram a partir 1737.
O charque foi uma solução encontrada para aproveitar melhor a carne, que salgada e seca tinha uma durabilidade maior, e era comercializada, mas vinha sendo desvalorizado cada vez mais, o seu valor reduzia-se basicamente ao couro e ao sebo.
O escravo gaúcho, no campo, normalmente se dividia em dois grupos: o da charqueada e o campeiro. A lida de um escravo campeiro, em geral, não era tão ”penosa” como nas charqueadas, visto que se trabalhava a cavalo e entre poucas pessoas. Essa função era vista como perigosa pois a estes cativos eram entregues instrumentos de trabalho e andavam a cavalo sem nenhuma vigilância. Isso reforça o mito de que a escravidão no RS tenha sido mais branda, pois nas charqueadas e nas fazendas cafeicultoras e açucareiras, não se encontrava escravos com tais níveis de “liberdade”, no entanto não há um consenso entre os historiadores a respeito da participação do escravo na atividade pastoril.
No entanto, sabemos que a exploração da mão de obra negra tenha sido amena nesse estado. A realidade, é que a população negra tinha um grande crescimento, o que impulsionou o envio de imigrantes para “clarear” a terra.
Mas a saber, os negros foram convocados a lutar por seus senhores, que ocupavam grandes postos nos exércitos, enquanto os seus escravos compunham o front de batalha: os lanceiros negros. Negros estes que receberam apenas lanças para lutar, e ficava a frente da cavalaria, popularmente, “bucha de canhão”.
Nos anos finais, a manutenção do conflito era muito cara e custosa, as negociações de paz estavam tramitando. Negociando o preço dos impostos sobre o charque, os revolucionários farroupilhas receberiam a anistia e seriam incorporados ao exército imperial (para lutar a Guerra do Paraguai). No entanto, os negros que lutaram, nada receberiam… os boatos de que os que lutaram receberiam a liberdade não passava de um blefe, para que não fugissem para o Uruguai, onde a escravidão já havia acabado.
Os negros sofreram um grande golpe dos farroupilhas: na noite de 14 de novembro de 1844, foram desarmados a mando do General David Canabarro, e mortos na chacina do Cerco de Porongos, na atual cidade de Pinheiro Machado.
Os negros foram entregues à morte pelo comandante do exército farroupilha, em um (dos vários) acordo(s) que desencadearam no Tratado de Paz de Ponche Verde, em 1º de março de 1845.
A Revolução Farroupilha, conflito burguês que massacrou os pobres e negros do RS, hoje, no Vinte de Setembro é comemorado como data máxima do povo gaúcho.
A concepção de cultura, patrimônio, e, sobretudo tradição, utilizada pelo movimento tradicionalista gaúcho é bastante peculiar: vai ao encontro do projeto político defendido e voltado a um passado glorioso, com vistas às gerações futuras.
O tradicionalismo, nesse sentido, é um elemento difusor ideológico, a serviço do Estado e de uma classe social, através do qual é de interesse que sentimentos e valores sejam disseminados, juntamente com um progressivo discurso moralista, presente nas mais diversas ações e costumes.
A representação de um setor da sociedade, em detrimento dos demais, é algum muito ruim. É opressor. Violenta os demais.
O Rio Grande do Sul é um estado onde vivem negros. Um estado onde negros colaboraram com sua cultura, com sua historicidade, com seus valores, com sua religião.
Nós, negros, estamos aqui. Reivindicamos a memória aos Lanceiros Negros, que viveram, lutaram e morrem por liberdade.
Baseado no discurso do senso comum, nas poucas vezes que sai do Rio Grande do Sul, fui olhada com estranhamento, quando me apresentava como gaúcha: em alguns lugares ainda se imagina que é um estado sem negros.
O Rio Grande do Sul é tido como o estado mais europeu do Brasil. É fato que as correntes migratórias foram fortes por aqui (açorianos em 1740, alemães em 1824, italianos em 1875). Mas antes desses imigrantes chegarem, diversas etnias indígenas já habitavam o território, além dos negros, que chegaram a partir 1737.
Chamado “Terra de Ninguém”, o território passou a ser ocupado oficialmente em meados do Século XVIII, com distribuição de Sesmarias (lotes de terra) pelo Rei de Portugal, destinadas à criação de gado e estimulando a imigração e o povoamento. Com a miscigenação entre os nativos e os recém chegados imigrantes, surge então o gaúcho brasileiro, a partir de 1732. Antes disso, com o Tratado de Tordesilhas (1494), o território pertencia a Espanha. Resultado de acordos políticos, a região necessitava de um “povoamento civilizado”, pois outrora era habitado por populações indígenas, portanto, Terra de Ninguém.Os negros no RS foram trazidos para trabalhar nas charquedas, que eram grandes fazendas que produziam charque. Esse produto era comercializado para servir de alimento para os escravos de todo país, e por isso o estado vendia muito.
O charque foi uma solução encontrada para aproveitar melhor a carne, que salgada e seca tinha uma durabilidade maior, e era comercializada, mas vinha sendo desvalorizado cada vez mais, o seu valor reduzia-se basicamente ao couro e ao sebo.
O escravo gaúcho, no campo, normalmente se dividia em dois grupos: o da charqueada e o campeiro. A lida de um escravo campeiro, em geral, não era tão ”penosa” como nas charqueadas, visto que se trabalhava a cavalo e entre poucas pessoas. Essa função era vista como perigosa pois a estes cativos eram entregues instrumentos de trabalho e andavam a cavalo sem nenhuma vigilância. Isso reforça o mito de que a escravidão no RS tenha sido mais branda, pois nas charqueadas e nas fazendas cafeicultoras e açucareiras, não se encontrava escravos com tais níveis de “liberdade”, no entanto não há um consenso entre os historiadores a respeito da participação do escravo na atividade pastoril.
No entanto, sabemos que a exploração da mão de obra negra tenha sido amena nesse estado. A realidade, é que a população negra tinha um grande crescimento, o que impulsionou o envio de imigrantes para “clarear” a terra.
O gentílico “gaúcho” foi aplicado aos habitantes do atual território do Rio Grande do Sul, de forma pejorativa por motivos políticos, no período da Revolução Farroupilha (1835-1845). Como a terminologia surgiu em razão da pobreza e da mestiçagem, a expressão não era vista com dignidade e valor. Mas de uma utilização pejorativa, o termo gaúcho passou o a ser incorporado pelos próprios rio-grandenses, ao final do conflito, com a assinatura do tratado de Paz, e a incorporação dos soldados gaúchos ao Exército BrasileiroO RS passou por um episódio, lembrado saudosamente pelo movimento tradicionalista, que foi a Revolução Farroupilha, entre 1835 e 1845. Esse foi um conflito, onde a elite local reivindicava menores impostos para o charque gaúcho ao Império. A briga era entre os grandes latifundiários da terra, mas quem acabou lutando foram os pobres e escravos: no começo do conflito, a população negra gaúcha era de 30%.
Mas a saber, os negros foram convocados a lutar por seus senhores, que ocupavam grandes postos nos exércitos, enquanto os seus escravos compunham o front de batalha: os lanceiros negros. Negros estes que receberam apenas lanças para lutar, e ficava a frente da cavalaria, popularmente, “bucha de canhão”.
Nos anos finais, a manutenção do conflito era muito cara e custosa, as negociações de paz estavam tramitando. Negociando o preço dos impostos sobre o charque, os revolucionários farroupilhas receberiam a anistia e seriam incorporados ao exército imperial (para lutar a Guerra do Paraguai). No entanto, os negros que lutaram, nada receberiam… os boatos de que os que lutaram receberiam a liberdade não passava de um blefe, para que não fugissem para o Uruguai, onde a escravidão já havia acabado.
Os negros sofreram um grande golpe dos farroupilhas: na noite de 14 de novembro de 1844, foram desarmados a mando do General David Canabarro, e mortos na chacina do Cerco de Porongos, na atual cidade de Pinheiro Machado.
Os negros foram entregues à morte pelo comandante do exército farroupilha, em um (dos vários) acordo(s) que desencadearam no Tratado de Paz de Ponche Verde, em 1º de março de 1845.
A Revolução Farroupilha, conflito burguês que massacrou os pobres e negros do RS, hoje, no Vinte de Setembro é comemorado como data máxima do povo gaúcho.
É inegável que a Ronda Gaúcha (posteriormente chamada Crioula) teve importante papel para a formação do atual Movimento Tradicionalista. Em 1947, um grupo de estudantes do Colégio Julio de Castilhos, de Porto Alegre, criou um Departamento de Tradições Gaúchas, com fins de preservar a cultura gaúcha, recordando a realidade do campo. De acordo com os documentos do MTG, esses jovens, atuaram em parceria com a Liga da Defesa Nacional, que os incumbiu de fazer o translado dos restos mortais do herói farrapo David Canabarro, que seria transladado de Sant’Ana do Livramento para Porto Alegre. [...] Da última centelha do Fogo Simbólico da Pátria, se acendeu a Chama Crioula, que se matem viva de do dia sete até o vinte de setembro. E com o Grupo dos Oito, é inaugurado o desfile cívico-militar, realizado pela Brigada Militar e pelos jovens tradicionalistas do Vinte de Setembro.Da memória de um conflito que não atendeu interesses populares, se criou uma data comemorativa, para a memória de um grupo social. Que naturalmente, não foram os negros: quando o herói de um povo é o assassino dos que lutaram por esse povo, existe algo de errado, seja no conceito de “herói”, seja o conceito de “memória”, seja o conceito de “pátria”
A concepção de cultura, patrimônio, e, sobretudo tradição, utilizada pelo movimento tradicionalista gaúcho é bastante peculiar: vai ao encontro do projeto político defendido e voltado a um passado glorioso, com vistas às gerações futuras.
O tradicionalismo, nesse sentido, é um elemento difusor ideológico, a serviço do Estado e de uma classe social, através do qual é de interesse que sentimentos e valores sejam disseminados, juntamente com um progressivo discurso moralista, presente nas mais diversas ações e costumes.
Aquele que não pertence ao meio recordado pelo movimento não faz parte da cultura gaúcha. Este se torna alheio ao gauchismo, na medida em que o tradicionalismo cria um passado mítico, constrói-se e dissemina um “gaúcho” ideal, que além de não condizer com o real, exclui uma significativa parcela da população do pertencimento territorial, cultural e político.De alguma forma, não há problemas em um povo homenagear a sua cultura e cultivar as suas tradições. Na teoria, isso é bonito. No entanto, a cultura gaúcha comemorada nos piquetes e nos acampamentos farroupilhas espalhados Rio Grande a fora, não passam de uma versão da história, construída na década de 1940, com início no Estado Novo e fortemente disseminada durante a Ditadura Militar.
A representação de um setor da sociedade, em detrimento dos demais, é algum muito ruim. É opressor. Violenta os demais.
O Rio Grande do Sul é um estado onde vivem negros. Um estado onde negros colaboraram com sua cultura, com sua historicidade, com seus valores, com sua religião.
Nós, negros, estamos aqui. Reivindicamos a memória aos Lanceiros Negros, que viveram, lutaram e morrem por liberdade.
quinta-feira, 19 de setembro de 2013
Carta aberta aos humoristas do Brasil
Queridos humoristas do Brasil,
Essa carta é minha humilde tentativa de fazer vocês colocarem a mão na consciência.
Pra começar, me apresento.
Sou, ou fui, um de vocês. Durante grande parte da década de 90, escrevi para a Revista Mad in Brazil sob o pseudônimo Xandelon. Cheguei a ser subeditor uma época, publicava quase todo número e escrevi dezenas de matérias de capa sob encomenda. Com esse dinheiro, pagava minhas contas e vivia disso.
Sei como é um trabalho duro sentar na redação e espremer a cabeça até
sair uma piada. Sei como é frustrante achar que a piada está ótima,
testá-la com o resto da equipe… e ninguém rir.
Então, aos trancos e barrancos, sem nunca ter sido lá brilhante, posso dizer que já fui sim humorista profissional.
Para o humor poder existir, são necessários uma série de pressupostos culturais coletivos, compartilhados pelo humorista e seu público que, convenhamos, muitas vezes são sim machistas, homofóbicos, racistas.
A piada “Sabe como afogar uma loira? Coloca um espelho no fundo na piscina!” só funciona porque tanto humorista quanto platéia “sabem” que loiras são fúteis, vaidosas e burras. Se não compartilhassem esse “conhecimento”, não é nem que a piada não seria engraçada: ela faria tão pouco sentido que não seria nem mesmo coerente enquanto narrativa.
Naturalmente, por esse mesmo motivo, o humor é sempre local: para pessoas de outras culturas, com outros pressupostos culturais compartilhados, a historinha também não faria sentido – pois não teriam a chave pra decodificar a piada, ou seja, que loiras “são burras, fúteis e vaidosas”. (Não são.)
Outro dia, a revista norte-americana Wired fez uma matéria de capa sobre
humor. Pouca gente sabe, mas existem muitos estudos acadêmicos sérios
(sic) sobre o humor, muita gente brilhante tentando entender: porque o
engraçado é engraçado?
Enfim, uma das últimas teorias, citadas na Wired, é que o humor viria de uma violação da ordem estabelecida, seja através de dignidade pessoal (tropeçar na casca de banana, deformidades físicas), normas linguísticas (gago, fanho, sotaques), normais sociais (comportamentos inusitados), e até mesmo normas morais (bestialidade, etc), mas que ao mesmo tempo não representasse uma ameaça ao público ou à sua visão de mundo.
Essa última parte é talvez a mais importante: a violação não pode ameaçar ou contradizer a visão de mundo do público, senão ela nem será compreensível.
Usando o mesmo exemplo acima, até dá pra fazer uma piada sem loiras, mas se a sua piada incluir uma loira, ela vai ter que ser burra, mesmo contra sua vontade, pois assim que mencionar “loira” o público já vai imaginá-la “burra“, mesmo se você acrescentar que é uma loira física nuclear ganhadora do Nobel. Nesse último caso, o público certamente pensaria que a piada era justamente sobre como a loira burra conseguiu virar física nuclear ganhadora do Nobel. Mas não dá pra desfazer a associação loira + burra.
Por outro lado, e é por isso que estou escrevendo
essa carta, se é impossível você humorista acabar sozinho com o
estereótipo da loira burra, é possível não reforçá-lo:
Basta não fazer piadas de loira burra.
Eu sei, eu sei. O estereótipo da loira burra é até inofensivo. É verdade, algumas das pessoas mais inteligentes que já conheci eram lindas loiras que enfrentavam dificuldades constantes de serem levadas a sério no ambiente de trabalho, mas e daí, né? No cômputo geral das coisas, é um pequeno problema.
Fazer rir utilizando esses estereótipos (a loira burra, o preto macaco, a bicha travesti, etc) é muito fácil. E eu não estou dizendo que vocês não podem não. O país é livre e temos liberdade de expressão justamente para isso.
Mas dá pra fazer diferente, eu peço.
Na verdade, eu desafio.
Riu? É, mas não tem graça. A solução está na mão dos homens.
As mulheres são mortas
em tão grandes números, e por seus próprios homens, porque existe uma
cultura machista no Brasil, onde as mulheres são vistas como tendo menos
valor, onde as mulheres são rotuladas ou como santas ou putas, onde uma
mulher viver abertamente sua sexualidade é considerado ofensivo ou repreensível, onde a sexualidade de uma mulher tem impacto direto sobre a honra de seu companheiro.
Se você faz piadas que confirmam os lugares-comuns dessa cultura machista, que objetificam a mulher, que estigmatizam seu comportamento sexual, então você possibilita e reforça essa cultura assassina.
Você é cúmplice.
(Não deixe de ler, aqui no PapodeHomem, meu texto: Feminismo para homens, um curso rápido.)
Os negros são mortos em proporções tão altas, em comparação ao restante da população, porque existe uma cultura racista no Brasil, onde os negros são vistos como tendo menos valor, onde os negros são hiperssexualizados como “negões pauzudos” ou “mulatas rebolantes”, onde o negro é sempre o preguiçoso ou o malandro, o atleta ou o faxineiro, mas nunca (ou raramente) o físico quântico ou o médico, o enxadrista ou galã pegador.
Se você faz piadas que confirmam os lugares-comuns dessa cultura racista, que denigrem o negro (inclusive usar o verbo “denegrir”), que comparam o negro a animais,
que classificam o tipo de cabelo característico dos negros de ruim, que
associam o negro à pobreza, ao crime, à ignorância e a tudo o que há de
mais baixo na escala social, então você possibilita e reforça essa
cultura assassina.
Você é cúmplice.
Os homossexuais são mortos em proporções tão altas, em comparação ao restante da população, porque existe uma cultura homofóbica no Brasil, onde os homossexuais são vistos como tendo menos valor, onde os homossexuais são hiperssexualizados como máquinas de foder sempre prontos para o sexo casual, onde o homossexual é sempre retratado como ridículo, efeminado, exagerado, folclórico, onde a tentativa de ensinar às crianças que homossexualidade é normal é rotulada de “kit gay”, onde a tentativa de dar direitos iguais aos homossexuais é rotulada de “ditadura gay”, onde a pregação de que os homossexuais são pecadores que vão pro inferno é protegida pela “liberdade de expressão”.

Se você faz piadas que confirmam os lugares-comuns dessa cultura homofóbica, que estigmatizam e ridicularizam os homossexuais, que utilizam o homossexual como xingamento como se ser homossexual fosse intrinsecamente ruim, que associam o homossexual ao pecado e à devassidão, ao ridículo e ao nojento, então você possibilita e reforça essa cultura assassina.
Você é cúmplice.
(Não deixe de ler, aqui no PapodeHomem, esse depoimento: “Queria ser hétero, mas não consigo”, editado e comentado por mim.)
Torcer o nariz para as piadas racistas, homofóbicas ou machistas de um comediante não é “patrulha”.
É o público exercendo pacificamente sua liberdade de expressão de considerar babaca um comediante que faça piadas racistas, homofóbicas ou machistas.
Esses pobres humoristas “perseguidos” que reclamam da “patrulha politicamente correta” não estão defendendo a liberdade de expressão: liberdade de expressão de verdade é o cara poder fazer piada sobre mulher estuprada e nós podermos criticá-lo por isso.
Na verdade, a liberdade que querem esses paladinos do “politicamente incorreto” é a liberdade de falar os maiores absurdos sem nunca serem criticados.
Aí é fácil, né? Assim eu também quero.
Adulto é quem sabe que falar significa se abrir para a possibilidade de ouvir a resposta. Adulto é quem entende que ele tem a mesma liberdade de falar que seus críticos tem de criticá-lo.
Pra encerrar, amigos humoristas, não esqueçam nunca qual é a função social mais importante da liberdade de expressão:
Sem ela, como saberíamos quem são os idiotas?
A questão é: quem se fode nessa piada?
Se é a vítima, o subalterno, a minoria, a mulher, o gay, o negro, etc, então essa piada é parte do problema. Ela confirma, apóia, sustenta a ideologia dominante. Ela está à serviço do machismo, do racismo, da homofobia.
Quando um gay é agredido com uma lâmpada na Av Paulista, os roteiristas do Zorra Total não podem levantar as mãos e se declarar inocentes. E nem quem assiste e ri.
Mas não é necessário vocês humoristas se autocensurarem ou se
tornarem vendedores de seguros. Por que não fazer piadas de gays… onde
são os homofóbicos que se fodem? Piadas de estupro… onde quem se fode
são os estupradores?
Vocês, humoristas, são livres para fazer piadas sobre o que quiserem. Mas também são cidadãos dotados de consciência. Os números da violência contra a mulher são impressionantes. Somos o país que mais mata gays. Nossos jovens negros são vítimas da maioria desproporcional dos homicídios.
A escolha é nossa, tanto humoristas quanto consumidores e repassadores de humor: queremos ser parte da solução ou parte do problema? Queremos estar do lado de quem mata ou estender a mão à quem está morrendo?
Essa discussão não é abstrata. Não estamos falando sobre princípios filosóficos. Tem gente morrendo AGORA.
É muito mais difícil fazer humor sem usar esses estereótipos que
confirmam e fortalecem as culturas assassinas do nosso país: a
homofobia, o machismo, o racismo.
Será que vocês conseguem? Será que conseguem, ao mesmo tempo, ser engraçados e não ser cúmplice dos assassinatos de mulheres, negros homossexuais.
Sei que não é fácil. Se fosse fácil, eu não estaria pedindo. Se fosse fácil, eu não estaria propondo o desafio.
Mas é tão necessário. É tristemente necessário.
Porque os humoristas alemães que faziam piadas de judeu em 1935 não são inocentes de Auschwitz não.
Fazer rir é relativamente fácil. Difícil é fazer rir sem ser babaca.

Se você acha que a “patrulha do politicamente correto está insuportável”, assista agora.
E depois você me conta.
Ah, atualmente, mantenho a minha veia de humorista ainda viva mantendo o tumblr Classe Média Sofre, minha humilde tentativa de fazer “humor do bem”, o que quer que isso seja. Deem uma olhada e me digam como estou me saindo.
Fonte aqui!
Essa carta é minha humilde tentativa de fazer vocês colocarem a mão na consciência.
Pra começar, me apresento.
Sou, ou fui, um de vocês. Durante grande parte da década de 90, escrevi para a Revista Mad in Brazil sob o pseudônimo Xandelon. Cheguei a ser subeditor uma época, publicava quase todo número e escrevi dezenas de matérias de capa sob encomenda. Com esse dinheiro, pagava minhas contas e vivia disso.

Essa matéria de capa, sobre a Feiticeira, é minha. Será que alguém ainda lembra dela?
Então, aos trancos e barrancos, sem nunca ter sido lá brilhante, posso dizer que já fui sim humorista profissional.
A dura vida do humorista profissional
Em teoria, o humor é simples: você cria uma expectativa, e depois a subverte.Para o humor poder existir, são necessários uma série de pressupostos culturais coletivos, compartilhados pelo humorista e seu público que, convenhamos, muitas vezes são sim machistas, homofóbicos, racistas.
A piada “Sabe como afogar uma loira? Coloca um espelho no fundo na piscina!” só funciona porque tanto humorista quanto platéia “sabem” que loiras são fúteis, vaidosas e burras. Se não compartilhassem esse “conhecimento”, não é nem que a piada não seria engraçada: ela faria tão pouco sentido que não seria nem mesmo coerente enquanto narrativa.
Naturalmente, por esse mesmo motivo, o humor é sempre local: para pessoas de outras culturas, com outros pressupostos culturais compartilhados, a historinha também não faria sentido – pois não teriam a chave pra decodificar a piada, ou seja, que loiras “são burras, fúteis e vaidosas”. (Não são.)

Se é pra sacanear alguém, sacaneie os poderosos, e não os subalternos.
Enfim, uma das últimas teorias, citadas na Wired, é que o humor viria de uma violação da ordem estabelecida, seja através de dignidade pessoal (tropeçar na casca de banana, deformidades físicas), normas linguísticas (gago, fanho, sotaques), normais sociais (comportamentos inusitados), e até mesmo normas morais (bestialidade, etc), mas que ao mesmo tempo não representasse uma ameaça ao público ou à sua visão de mundo.
Essa última parte é talvez a mais importante: a violação não pode ameaçar ou contradizer a visão de mundo do público, senão ela nem será compreensível.
Usando o mesmo exemplo acima, até dá pra fazer uma piada sem loiras, mas se a sua piada incluir uma loira, ela vai ter que ser burra, mesmo contra sua vontade, pois assim que mencionar “loira” o público já vai imaginá-la “burra“, mesmo se você acrescentar que é uma loira física nuclear ganhadora do Nobel. Nesse último caso, o público certamente pensaria que a piada era justamente sobre como a loira burra conseguiu virar física nuclear ganhadora do Nobel. Mas não dá pra desfazer a associação loira + burra.

Dois em um: piada de loira E portuguesa. E mexendo os dedinhos dos pés.
Basta não fazer piadas de loira burra.
Eu sei, eu sei. O estereótipo da loira burra é até inofensivo. É verdade, algumas das pessoas mais inteligentes que já conheci eram lindas loiras que enfrentavam dificuldades constantes de serem levadas a sério no ambiente de trabalho, mas e daí, né? No cômputo geral das coisas, é um pequeno problema.
Fazer rir utilizando esses estereótipos (a loira burra, o preto macaco, a bicha travesti, etc) é muito fácil. E eu não estou dizendo que vocês não podem não. O país é livre e temos liberdade de expressão justamente para isso.
Mas dá pra fazer diferente, eu peço.
Na verdade, eu desafio.
O machismo mata
Dez mulheres são assassinadas por dia no Brasil, colocando-o no 12º lugar no ranking mundial de homicídios contra a mulher. Uma em cada cinco mulheres já sofreu violência de parte de um homem, em 80% dos casos o seu próprio parceiro. Em 2011, o ABC paulista teve um estupro (reportado!) por dia. Na cidade de São Paulo, uma mulher é agredida a cada sete minutos — além de não ter tempo de fazer nada, essa pobre mulher ainda é agredida no chuveiro, no ônibus, até na privada!Riu? É, mas não tem graça. A solução está na mão dos homens.

Faça pouco dos poderosos que podem se defender.
Se você faz piadas que confirmam os lugares-comuns dessa cultura machista, que objetificam a mulher, que estigmatizam seu comportamento sexual, então você possibilita e reforça essa cultura assassina.
Você é cúmplice.
(Não deixe de ler, aqui no PapodeHomem, meu texto: Feminismo para homens, um curso rápido.)
O racismo mata
Entre 2002 e 2007, o número de homicídios cujas vítimas eram jovens negros aumentou 49%. De cada 100 mil habitantes, morrem por homicídio 30,3 brancos e 68,5 negros. A probabilidade de ser vítima de homicídio é 12 vezes maior para adolescentes homens e, dentro desse grupo, quatro vezes maior para jovens negros. De cada três jovens assassinados, dois são negros. A população negra teve 73% de vítimas de homicídio a mais do que a população branca.Os negros são mortos em proporções tão altas, em comparação ao restante da população, porque existe uma cultura racista no Brasil, onde os negros são vistos como tendo menos valor, onde os negros são hiperssexualizados como “negões pauzudos” ou “mulatas rebolantes”, onde o negro é sempre o preguiçoso ou o malandro, o atleta ou o faxineiro, mas nunca (ou raramente) o físico quântico ou o médico, o enxadrista ou galã pegador.

Rárárá! Esse Danilo é ótimo! Só que não.
Você é cúmplice.
A homofobia mata
Em 2010, foram mortos 260 homossexuais no Brasil, 62 a mais que em 2009 (198), um aumento de 113% desde 2007 (122). Nos EUA, com 100 milhões a mais de habitantes, moram mortos 14. Um homossexual brasileiro tem 785% mais chances de morrer vítima de violência que um norte-americano. As coisas parecem estar piorando: só nos primeiros dois meses de 2012, foram 80 assassinatos confirmados. Mantido esse padrão, teremos 500 homossexuais assassinados até o final de 2012. Nenhum país do mundo mata tantos homossexuais quanto o Brasil.Os homossexuais são mortos em proporções tão altas, em comparação ao restante da população, porque existe uma cultura homofóbica no Brasil, onde os homossexuais são vistos como tendo menos valor, onde os homossexuais são hiperssexualizados como máquinas de foder sempre prontos para o sexo casual, onde o homossexual é sempre retratado como ridículo, efeminado, exagerado, folclórico, onde a tentativa de ensinar às crianças que homossexualidade é normal é rotulada de “kit gay”, onde a tentativa de dar direitos iguais aos homossexuais é rotulada de “ditadura gay”, onde a pregação de que os homossexuais são pecadores que vão pro inferno é protegida pela “liberdade de expressão”.

Se você faz piadas que confirmam os lugares-comuns dessa cultura homofóbica, que estigmatizam e ridicularizam os homossexuais, que utilizam o homossexual como xingamento como se ser homossexual fosse intrinsecamente ruim, que associam o homossexual ao pecado e à devassidão, ao ridículo e ao nojento, então você possibilita e reforça essa cultura assassina.
Você é cúmplice.
(Não deixe de ler, aqui no PapodeHomem, esse depoimento: “Queria ser hétero, mas não consigo”, editado e comentado por mim.)
Não reclame da “patrulha”
“Patrulha” são soldados armados que podem te matar se você os desobedecer.Torcer o nariz para as piadas racistas, homofóbicas ou machistas de um comediante não é “patrulha”.
É o público exercendo pacificamente sua liberdade de expressão de considerar babaca um comediante que faça piadas racistas, homofóbicas ou machistas.
Esses pobres humoristas “perseguidos” que reclamam da “patrulha politicamente correta” não estão defendendo a liberdade de expressão: liberdade de expressão de verdade é o cara poder fazer piada sobre mulher estuprada e nós podermos criticá-lo por isso.
Na verdade, a liberdade que querem esses paladinos do “politicamente incorreto” é a liberdade de falar os maiores absurdos sem nunca serem criticados.
Aí é fácil, né? Assim eu também quero.

Nunca vi ninguém não-babaca se dizendo “politicamente incorreto”.
[E]sse pessoal que ataca minorias pra fazer piada precisa entender é que eles não estão transgredindo nada. Seus tataravôs já eram racistas, gente. Pode ter certeza que seus tataravôs já comparavam negros com macacos. Aposto como seus tataravôs já faziam gracinhas sobre a sorte que uma moça feia teve em ser estuprada. Vocês não são moderninhos, não são ousados, não são criativos. Vocês estão apenas seguindo uma tradição.Falar besteira, qualquer criança fala.
Adulto é quem sabe que falar significa se abrir para a possibilidade de ouvir a resposta. Adulto é quem entende que ele tem a mesma liberdade de falar que seus críticos tem de criticá-lo.
[O humor] não tem que ter limites. O que a gente tem que ter também é uma crítica ilimitada. O humor tem que ser solto como qualquer linguagem humana tem que ser solta e livre, o que a gente tem é que ter o direito de exercer o poder da crítica sobre isso permanentemente. Então você dizer que uma piada é racista, ou sexista, e argumentar nessa direção, não é censurá-la, é exercer seu direito de crítica.

Tudo que hoje falam do casamento gay era o que falavam do casamento interracial.
Sem ela, como saberíamos quem são os idiotas?
Façam pouco dos agressores e não dos agredidos
Não existe piada inofensiva: se alguém gargalhou é porque alguém se fudeu.A questão é: quem se fode nessa piada?
Se é a vítima, o subalterno, a minoria, a mulher, o gay, o negro, etc, então essa piada é parte do problema. Ela confirma, apóia, sustenta a ideologia dominante. Ela está à serviço do machismo, do racismo, da homofobia.
Quando um gay é agredido com uma lâmpada na Av Paulista, os roteiristas do Zorra Total não podem levantar as mãos e se declarar inocentes. E nem quem assiste e ri.

O “santo” Monteiro Lobato era muito racista – e a Emília também.
Vocês, humoristas, são livres para fazer piadas sobre o que quiserem. Mas também são cidadãos dotados de consciência. Os números da violência contra a mulher são impressionantes. Somos o país que mais mata gays. Nossos jovens negros são vítimas da maioria desproporcional dos homicídios.
A escolha é nossa, tanto humoristas quanto consumidores e repassadores de humor: queremos ser parte da solução ou parte do problema? Queremos estar do lado de quem mata ou estender a mão à quem está morrendo?
Essa discussão não é abstrata. Não estamos falando sobre princípios filosóficos. Tem gente morrendo AGORA.

O humor ajuda a perpetuar o racismo. Ou a denunciá-lo. A escolha é de vocês.
Será que vocês conseguem? Será que conseguem, ao mesmo tempo, ser engraçados e não ser cúmplice dos assassinatos de mulheres, negros homossexuais.
Sei que não é fácil. Se fosse fácil, eu não estaria pedindo. Se fosse fácil, eu não estaria propondo o desafio.
Mas é tão necessário. É tristemente necessário.
Porque os humoristas alemães que faziam piadas de judeu em 1935 não são inocentes de Auschwitz não.
Fazer rir é relativamente fácil. Difícil é fazer rir sem ser babaca.

Não deixem de assistir o documentário abaixo
Esse texto todo, na verdade, foi só pra apresentar esse documentário. Assistam. Todos os melhores argumentos estão aí. Os melhores comediantes do Brasil. Gente do mais alto gabarito.Se você acha que a “patrulha do politicamente correto está insuportável”, assista agora.
E depois você me conta.
Ah, atualmente, mantenho a minha veia de humorista ainda viva mantendo o tumblr Classe Média Sofre, minha humilde tentativa de fazer “humor do bem”, o que quer que isso seja. Deem uma olhada e me digam como estou me saindo.
Fonte aqui!
terça-feira, 17 de setembro de 2013
"Deusas violentadas” | Poderosa campanha indiana condena a violência doméstica
Todos os dias a violência contra a mulher estampa os jornais,
revistas, sites. Quando não, estão ocorrendo na casa vizinha, no bairro
vizinho, sendo assunto recorrente. No Brasil, no ano de 2012, foram
registrados 732.468 casos de violência domestica, mas, infelizmente,
esta não é uma realidade apenas local.
Por: Rafhael Peixoto
Na contramão das condutas de violência contra as mulheres, existem outras que visam subverter a lógica social, como a campanha publicitária criada pela empresa Taproot. A campanha trouxe à tona o reflexo do cotidiano, ou seja, a violência doméstica contra a mulher, impressa sob o símbolo máximo de um povo: a religião. A empresa utilizou de antigas imagens de Deusas da cultura Indiana para trazer as marcas empregadas pela violência às mulheres comuns, despertando assim um olhar de contradição no público atingido. Como as mulheres, divinizadas em determinado espaço, podem ser violentadas no seu cotidiano? Este é o reflexo que o individuo deve se ater no momento em que visualiza a peça publicitária.
As imagens são pinturas que atualizam velhos retratos a óleo de Deusas Indianas, tendo os detalhes dos adereços sido pintados ou fotografados para dar maior realidade à figura. Além da imagem, o texto é também impactante: "Reze para que este dia nunca chegue. Hoje, mais de 68% das mulheres indianas sofrem violência doméstica. Amanhã, parece que nenhuma mulher será poupada. Nem aquelas pela qual oramos".
As campanhas ainda apresentam um número disque-denúncia. Na Índia, somente no ano passado, foram registrados 244.270 crimes cometidos contra mulheres. Uma situação que precisa ser revestida e pela qual a ação se propõe. Abaixo, algumas das Deusas indianas impressas nos cartazes da campanha
Vejam as fotos aqui!
Por: Rafhael Peixoto
Na contramão das condutas de violência contra as mulheres, existem outras que visam subverter a lógica social, como a campanha publicitária criada pela empresa Taproot. A campanha trouxe à tona o reflexo do cotidiano, ou seja, a violência doméstica contra a mulher, impressa sob o símbolo máximo de um povo: a religião. A empresa utilizou de antigas imagens de Deusas da cultura Indiana para trazer as marcas empregadas pela violência às mulheres comuns, despertando assim um olhar de contradição no público atingido. Como as mulheres, divinizadas em determinado espaço, podem ser violentadas no seu cotidiano? Este é o reflexo que o individuo deve se ater no momento em que visualiza a peça publicitária.
As imagens são pinturas que atualizam velhos retratos a óleo de Deusas Indianas, tendo os detalhes dos adereços sido pintados ou fotografados para dar maior realidade à figura. Além da imagem, o texto é também impactante: "Reze para que este dia nunca chegue. Hoje, mais de 68% das mulheres indianas sofrem violência doméstica. Amanhã, parece que nenhuma mulher será poupada. Nem aquelas pela qual oramos".
As campanhas ainda apresentam um número disque-denúncia. Na Índia, somente no ano passado, foram registrados 244.270 crimes cometidos contra mulheres. Uma situação que precisa ser revestida e pela qual a ação se propõe. Abaixo, algumas das Deusas indianas impressas nos cartazes da campanha
Vejam as fotos aqui!

Coisas que uma sociedade racista faz por você
Você, um belo dia, está na faculdade e vem uma pessoa que mal te
conhece e te diz: “ai nossa, se eu fosse você, com essa beleza, não
estava aqui não. Tinha arrumado um gringo rico, você sabe que eles
adoram mulheres negras”. Poxa vida, me descobriram! Mas, é claro que é
isso! Sou modelo manequim frustrada que tentou ser garota do tempo e
mulata do Sargenteli e não conseguiu. Daí, tive a brilhante de ideia de
perseguir um marido rico para me dar bem. Aí, pensei: onde posso arrumar
um gringo rico? No curso de Filosofia! Fiz quatro anos de graduação,
agora estou no mestrado, mas ainda não consegui. Mas, estou na luta!
Você vai levar sua filha pra praticar uma atividade esportiva. Já não fala muito com as pessoas porque tem preguiça delas. Abre um livro da Beauvoir pra ler, coloca sua cara no modo “não perturbe”, mas mesmo assim, do nada, vem uma alma que mal te conhece, mexer na capa do seu livro e te dizer: “estava te olhando de longe e não acreditei; vim ver mesmo se você estava lendo Beauvoir!” Mas é claro, que ela tinha que ficar surpresa, eu estudo Beauvoir no mestrado, já apresentei trabalhos sobre a obra dela, mas bem feito pra mim, que mandou não ter cara de quem estuda. E ainda por cima, estava lendo um livro em inglês, como assim, uma negra bilíngue? É o fim dos tempos!
De novo, você leva sua filha para praticar esporte. Enquanto está lá, ouve música porque tem preguiça das pessoas que lá estão. Aí, uma senhora, que não te conhece, se aproxima de você, faz você para de ouvir a linda da Nina Simone e te diz: “olha, estou procurando alguém pra limpar a minha casa, se você conhecer alguém, avisa o tal professor”. O professor, em questão, também era negro e com certeza a gente devia ser da mesma família. Lógico, a Thulane só está lá porque ele deu uma bolsa pra ela. Eu estava lá, no mesmo espaço que ela, esperando minha filha, (que pasmem, é negra!), mas eu deveria estar perdida por lá ou deveria ser consultora de recursos humanos domésticos para dondocas sem noção.
Você está em algum espaço que as pessoas julgam que não é pra você. As pessoas te olham com aquela cara de quem deixou esse povo entrar ou te olham como se você fosse algum experimento científico que deu errado. Não satisfeitas, elas vem te abordar e fazem um interrogatório: “onde você mora?” “Trabalha com o que?” “seu pai fazia o que?” “onde sua filha estuda?” Pessoas que nunca te viram ou que mal te conhecem. É um excelente modo de se fazer amizade, na verdade, é super comum você sair fazendo perguntas invasivas pra pessoas que você nunca viu. Inclusive, é um método recomendado pelo guia de etiqueta da Glória Kalil.
Você está conversando com algumas pessoas, quando de repente, uma para, te olha com surpresa e diz: “nossa, você é inteligente, fala bem!” Puxa, que pessoa bacana, ela ficou surpresa por eu saber falar! Ou quando não muito, quer ser parabenizada por não se considerar racista: “sabe, eu não discrimino ninguém, inclusive deixo meus filhos terem amizade com pessoas como você!” Olha,que pessoa maravilhosa!! Da próxima vez vou pegar o nome completo dela e mandar fazer uma placa em homenagem a ela!
Depois, ainda tem gente, que vem dizer que a gente só fala em racismo e fica postando o vídeo do Morgan Freeman dizendo que o melhor modo de acabar com o racismo é não falar sobre. Claro, porque a gente fala de racismo porque gosta. A sociedade é tão maravilhosa, todas as pessoas são tratadas igualmente e com respeito, que daí, a gente seu auto oprime. Na verdade, vou contar um segredo: @s pret@s, as bichas, as sapatas, as travas e trans, se reúnem mensalmente e fazem uma cúpula noturna. A cada reunião, a gente decide quem vai ser o grupo oprimido da vez. Aí, a gente se auto flagela também que é pra dar mais veracidade e emoção. Ironias, a parte, como tem pessoas que não tem a mínima noção do que está fazendo no mundo! A impressão que dá é que elas vieram de um planeta distante e resolveram parar a nave espacial na Terra, olharam para o Brasil, quiseram ficar, mas mantém a cabeça no outro planeta. Não tem a mínima noção dos problemas sociais do país em que vive, e pior, culpa o outro, quando esse outro se impõe contra isso. Impressionante. Ou tem aquelas pessoas que dizem que só o pensamento positivo cura e que devemos parar de falar no mal que nos aflige. E ficam numa bolha de otimismo que dá medo, vai que pega. Ser positiva diante da vida é importante, não nego, mas achar que tudo se resolve com isso, beira à loucura. Será que o Amarildo não pensou positivo o suficiente? Ah, me poupe. Algumas pessoas, em vez de questionarem porque estão incomodadas com sua presença, querem procuram motivos para legitimar o incômodo delas te incomodando. Praticamente um trava língua. Já naturalizaram tanto que negras não devem estar em certos espaços, que não se questionam sobre isso, ao contrário, acham que você está invadindo o espaço delas.
Por isso, que digo: não sou obrigada a conviver com esse tipo de gente por vontade própria. Já basta ter que enfrentar o racismo institucional e pessoas que não dá pra evitar. Justamente por isso, que não dou a mínima para algumas pessoas, que me afasto ou ignoro mesmo. Não faço a mínima questão. Não sou obrigada a conviver com pessoas que ficam muito surpresas por me acharem inteligente. E ouvir isso de pessoas que acham que o Che Guevara foi um assassino frio e sanguinário e acreditam no golpe comunista de 2014. Ouvir isso de pessoas que colocam @ filh@ numa escola que usa conceitos de Piaget e Vigotsky e fiam perturbando a professora perguntando porque não ensinam matemática de modo “convencional”. Daí, quando você fala brevemente sobre os dois autores e fala sobre o construtivismo, aí sim elas tem certeza que você é a criação do vírus ébola. Eu quero estar perto de pessoas que tratam as outras como pessoas. Uma frase tão óbvia, mas ao mesmo tempo tão distante. Depois não adianta me chamar de antipática, eu é que não vou morrer de úlcera e nem cansar minha beleza tendo que conversar com pessoas assim. Como diz, meu lindo amigo, Didz de Lautaro, já basta o mundo pra nos oprimir, não precisamos de pessoas assim no nosso convívio. Tomei essa resolução pra minha vida; me faz muito bem. Sem culpas, sem medo de ser rotulada de anti social. E, falando no lindo do Didz, adorei uma frase que aprendemos num curso que fizemos juntos: “não basta resistir, tem que vicejar!” E continuarei vicejando negra e linda e jogando minhas tranças para essas pessoas sem noção.
* Texto de Djamila Ribeiro – Mestranda no programa de Pós-Graduação em Filosofia na Unifesp. Djamila é uma mulher inteligente pra caramba, filósofa transgressora, absurdamente, linda e mãe de uma menina ultra graciosa.
Você vai levar sua filha pra praticar uma atividade esportiva. Já não fala muito com as pessoas porque tem preguiça delas. Abre um livro da Beauvoir pra ler, coloca sua cara no modo “não perturbe”, mas mesmo assim, do nada, vem uma alma que mal te conhece, mexer na capa do seu livro e te dizer: “estava te olhando de longe e não acreditei; vim ver mesmo se você estava lendo Beauvoir!” Mas é claro, que ela tinha que ficar surpresa, eu estudo Beauvoir no mestrado, já apresentei trabalhos sobre a obra dela, mas bem feito pra mim, que mandou não ter cara de quem estuda. E ainda por cima, estava lendo um livro em inglês, como assim, uma negra bilíngue? É o fim dos tempos!
De novo, você leva sua filha para praticar esporte. Enquanto está lá, ouve música porque tem preguiça das pessoas que lá estão. Aí, uma senhora, que não te conhece, se aproxima de você, faz você para de ouvir a linda da Nina Simone e te diz: “olha, estou procurando alguém pra limpar a minha casa, se você conhecer alguém, avisa o tal professor”. O professor, em questão, também era negro e com certeza a gente devia ser da mesma família. Lógico, a Thulane só está lá porque ele deu uma bolsa pra ela. Eu estava lá, no mesmo espaço que ela, esperando minha filha, (que pasmem, é negra!), mas eu deveria estar perdida por lá ou deveria ser consultora de recursos humanos domésticos para dondocas sem noção.
Você está em algum espaço que as pessoas julgam que não é pra você. As pessoas te olham com aquela cara de quem deixou esse povo entrar ou te olham como se você fosse algum experimento científico que deu errado. Não satisfeitas, elas vem te abordar e fazem um interrogatório: “onde você mora?” “Trabalha com o que?” “seu pai fazia o que?” “onde sua filha estuda?” Pessoas que nunca te viram ou que mal te conhecem. É um excelente modo de se fazer amizade, na verdade, é super comum você sair fazendo perguntas invasivas pra pessoas que você nunca viu. Inclusive, é um método recomendado pelo guia de etiqueta da Glória Kalil.
Você está conversando com algumas pessoas, quando de repente, uma para, te olha com surpresa e diz: “nossa, você é inteligente, fala bem!” Puxa, que pessoa bacana, ela ficou surpresa por eu saber falar! Ou quando não muito, quer ser parabenizada por não se considerar racista: “sabe, eu não discrimino ninguém, inclusive deixo meus filhos terem amizade com pessoas como você!” Olha,que pessoa maravilhosa!! Da próxima vez vou pegar o nome completo dela e mandar fazer uma placa em homenagem a ela!
Depois, ainda tem gente, que vem dizer que a gente só fala em racismo e fica postando o vídeo do Morgan Freeman dizendo que o melhor modo de acabar com o racismo é não falar sobre. Claro, porque a gente fala de racismo porque gosta. A sociedade é tão maravilhosa, todas as pessoas são tratadas igualmente e com respeito, que daí, a gente seu auto oprime. Na verdade, vou contar um segredo: @s pret@s, as bichas, as sapatas, as travas e trans, se reúnem mensalmente e fazem uma cúpula noturna. A cada reunião, a gente decide quem vai ser o grupo oprimido da vez. Aí, a gente se auto flagela também que é pra dar mais veracidade e emoção. Ironias, a parte, como tem pessoas que não tem a mínima noção do que está fazendo no mundo! A impressão que dá é que elas vieram de um planeta distante e resolveram parar a nave espacial na Terra, olharam para o Brasil, quiseram ficar, mas mantém a cabeça no outro planeta. Não tem a mínima noção dos problemas sociais do país em que vive, e pior, culpa o outro, quando esse outro se impõe contra isso. Impressionante. Ou tem aquelas pessoas que dizem que só o pensamento positivo cura e que devemos parar de falar no mal que nos aflige. E ficam numa bolha de otimismo que dá medo, vai que pega. Ser positiva diante da vida é importante, não nego, mas achar que tudo se resolve com isso, beira à loucura. Será que o Amarildo não pensou positivo o suficiente? Ah, me poupe. Algumas pessoas, em vez de questionarem porque estão incomodadas com sua presença, querem procuram motivos para legitimar o incômodo delas te incomodando. Praticamente um trava língua. Já naturalizaram tanto que negras não devem estar em certos espaços, que não se questionam sobre isso, ao contrário, acham que você está invadindo o espaço delas.
Por isso, que digo: não sou obrigada a conviver com esse tipo de gente por vontade própria. Já basta ter que enfrentar o racismo institucional e pessoas que não dá pra evitar. Justamente por isso, que não dou a mínima para algumas pessoas, que me afasto ou ignoro mesmo. Não faço a mínima questão. Não sou obrigada a conviver com pessoas que ficam muito surpresas por me acharem inteligente. E ouvir isso de pessoas que acham que o Che Guevara foi um assassino frio e sanguinário e acreditam no golpe comunista de 2014. Ouvir isso de pessoas que colocam @ filh@ numa escola que usa conceitos de Piaget e Vigotsky e fiam perturbando a professora perguntando porque não ensinam matemática de modo “convencional”. Daí, quando você fala brevemente sobre os dois autores e fala sobre o construtivismo, aí sim elas tem certeza que você é a criação do vírus ébola. Eu quero estar perto de pessoas que tratam as outras como pessoas. Uma frase tão óbvia, mas ao mesmo tempo tão distante. Depois não adianta me chamar de antipática, eu é que não vou morrer de úlcera e nem cansar minha beleza tendo que conversar com pessoas assim. Como diz, meu lindo amigo, Didz de Lautaro, já basta o mundo pra nos oprimir, não precisamos de pessoas assim no nosso convívio. Tomei essa resolução pra minha vida; me faz muito bem. Sem culpas, sem medo de ser rotulada de anti social. E, falando no lindo do Didz, adorei uma frase que aprendemos num curso que fizemos juntos: “não basta resistir, tem que vicejar!” E continuarei vicejando negra e linda e jogando minhas tranças para essas pessoas sem noção.
* Texto de Djamila Ribeiro – Mestranda no programa de Pós-Graduação em Filosofia na Unifesp. Djamila é uma mulher inteligente pra caramba, filósofa transgressora, absurdamente, linda e mãe de uma menina ultra graciosa.
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
OAB pedirá cassação de Feliciano e Bolsonaro, com mais de 20 entidades de direitos humanos
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
concluiu a denúncia contra Marco Feliciano (PSC-SP) e Jair Bolsonaro
(PP-RJ) por campanha de ódio. Em conjunto com mais de vinte entidades
ligadas aos direitos humanos, a entidade deve enviar a denúncia ao
presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
Os grupos querem entrar com uma representação junto à Corregedoria da Câmara, acusando os dois parlamentares de quebra de decoro parlamentar em virtude de divulgação de vídeos considerados difamatórios, o que poderia resultar na cassação dos mandatos de ambos.
Os grupos querem entrar com uma representação junto à Corregedoria da Câmara, acusando os dois parlamentares de quebra de decoro parlamentar em virtude de divulgação de vídeos considerados difamatórios, o que poderia resultar na cassação dos mandatos de ambos.
Em um dos vídeos, Bolsonaro teria
editado a fala de um professor do Distrito Federal em audiências na
Câmara para acusá-lo de pedofilia e fez o mesmo com a fala de uma
psicóloga do DF. O deputado utiliza imagens de deputados a favor da
causa homossexual para dizer que eles são contrários à família.
Já Feliciano, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Casa, é denunciado por um vídeo atacando opositores políticos e lideranças do movimento que são favoráveis à causa de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis (LGBT), que foi postado pela assessoria do deputado. Ele nega qualquer relação com o vídeo. “Não fizemos o vídeo. A minha assessoria viu, achou interessante e postou”, disse.
Para o presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH) da OAB, Wadih Damous, essas campanhas de ódio representam o rebaixamento da política brasileira. “Pensar que tais absurdos partem de representantes do Estado, das Estruturas do Congresso Nacional, é algo inimaginável e não podemos ficar omissos. Direitos Humanos não se loteia e não se barganha”, disse.
Em reunião com a CNDH da entidade dos advogados estiveram presentes, além dos deputados acusados na campanha difamatória, representantes da secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, do Conselho Federal de Psicologia, e ativistas dos movimentos indígena, de mulheres, da população negra, do povo de terreiro e LGBT. Damous garantiu que “a Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB será protagonista no enfrentamento a esse tipo de atentado à dignidade humana”.
Correio do Brasil
Já Feliciano, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Casa, é denunciado por um vídeo atacando opositores políticos e lideranças do movimento que são favoráveis à causa de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis (LGBT), que foi postado pela assessoria do deputado. Ele nega qualquer relação com o vídeo. “Não fizemos o vídeo. A minha assessoria viu, achou interessante e postou”, disse.
Para o presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH) da OAB, Wadih Damous, essas campanhas de ódio representam o rebaixamento da política brasileira. “Pensar que tais absurdos partem de representantes do Estado, das Estruturas do Congresso Nacional, é algo inimaginável e não podemos ficar omissos. Direitos Humanos não se loteia e não se barganha”, disse.
Em reunião com a CNDH da entidade dos advogados estiveram presentes, além dos deputados acusados na campanha difamatória, representantes da secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, do Conselho Federal de Psicologia, e ativistas dos movimentos indígena, de mulheres, da população negra, do povo de terreiro e LGBT. Damous garantiu que “a Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB será protagonista no enfrentamento a esse tipo de atentado à dignidade humana”.
Correio do Brasil
Empresária conta como descobriu cemitério de escravos, ao reformar casa
“Quando encontrei uma arcada dentária de criança fiquei assustada. Pensei em uma chacina, que alguém havia matado a própria família”
Empresária do ramo da dedetização, Ana Maria de la Merced Guimarães, nunca imaginou que a compra do imóvel na rua Pedro Ernesto, nº 36, no bairro da Gamboa, zona portuária do Rio, mudaria radicalmente sua vida, a de seu marido, Petruccio, e das três filhas. Em 1996, durante uma reforma, a família descobriu ossadas debaixo da casa. A princípio, desconfiou que fossem de cachorros, até encontrarem várias arcadas dentárias humanas.
“Quando encontrei uma arcada dentária de criança fiquei assustada. Pensei em uma chacina, que alguém havia matado a própria família. Pensei o pior. Liguei para minha advogada, que ligou para um delegado. Depois, com a cabeça fria, lembramos que a Gamboa é uma região histórica”, contou.
A casa de Merced e dezenas de outras casas do bairro haviam sido construídas por cima de um cemitério de escravos do século 17. Após pesquisas e estudos dos artefatos, descobriu-se que a maioria dos mortos enterrados eram crianças e pré-adolescentes. Por esse motivo, o cemitério ficou conhecido como Pretos Novos (criado em 1769 e extinto em 1830). Lá foram enterrados, em covas coletivas, escravos que não resistiam à longa viagem nos navios negreiros vindos da África.
“Este cemitério era conhecido por poucos, esquecido por todos. Um passado funesto, mas importantíssimo para a nossa cidade. Isto representa o Holocausto negro. Aqui embaixo estão enterradas milhares de pessoas. A maioria pré-adolescente. Isto aqui representa um crime contra a humanidade e não pode ser esquecido”, declarou Merced. Além das ossadas, também foram encontradas cerâmicas e conchas.
A notícia sobre a existência de um cemitério de escravos acabou atraindo visitantes do Brasil e de outros países interessados em saber mais sobre a história envolvendo as mortes e o local. “Passamos a abrir a casa para pesquisadores, estudantes, jornalistas, uma média de dez a 15 pessoas por mês”. Novos amigos surgiram, assim como a admiração pelos artefatos e pela história.
Em 2005, ela e o marido compraram mais dois terrenos na mesma rua, um deles se tornou a sede do Instituto de Pesquisa e Memória dos Pretos Novos, fundado naquele ano por Merced, amigos e estudiosos do tema. Dezessete anos depois, Merced e o marido são responsáveis pela manutenção e promoção do instituto, que é também uma galeria de arte e um museu memorial.
Em 2011, mais uma surpresa: na busca por mapear o cemitério, arqueólogos descobriram um sambaqui, sítio pré-histórico formado pelo acúmulo de conchas, moluscos, ossos humanos e animais de mais de 3 mil anos e vestígios do primeiro encontro entre indígenas Tupinambás e portugueses que aqui chegaram pela primeira vez.
A dedicação à causa custou à família sacrifícios que emocionam Merced até hoje. “Fomos proibidos de fazer a obra e, em 1998, tivemos que sair correndo da casa, que ameaçava desabar por causa das escavações e das chuvas. Minhas filhas, na época adolescentes, tiveram que morar em um abrigo na nossa empresa até 2001”, contou entre lágrimas. “Isso ficou nas nossas mãos sem ninguém assumir esta responsabilidade”.
Hoje, o local também conta com um núcleo de pesquisa e oficinas de história sobre os pretos novos. Em 2012, mais de mil pessoas participaram das atividades promovidas pelo núcleo. A Companhia de Desenvolvimento Urbano e Portuário da prefeitura contribui com um pequeno aporte para cobrir os gastos com conta de luz, água e limpeza. A maior parte das receitas vem de doações e do bolso da família. A manutenção das janelas arqueológicas e produção de folhetos explicativos também são de responsabilidade da prefeitura, mas quem cuida e mantém aberto o lugar é Merced e o marido.
Empresária do ramo da dedetização, Ana Maria de la Merced Guimarães, nunca imaginou que a compra do imóvel na rua Pedro Ernesto, nº 36, no bairro da Gamboa, zona portuária do Rio, mudaria radicalmente sua vida, a de seu marido, Petruccio, e das três filhas. Em 1996, durante uma reforma, a família descobriu ossadas debaixo da casa. A princípio, desconfiou que fossem de cachorros, até encontrarem várias arcadas dentárias humanas.
“Quando encontrei uma arcada dentária de criança fiquei assustada. Pensei em uma chacina, que alguém havia matado a própria família. Pensei o pior. Liguei para minha advogada, que ligou para um delegado. Depois, com a cabeça fria, lembramos que a Gamboa é uma região histórica”, contou.
A casa de Merced e dezenas de outras casas do bairro haviam sido construídas por cima de um cemitério de escravos do século 17. Após pesquisas e estudos dos artefatos, descobriu-se que a maioria dos mortos enterrados eram crianças e pré-adolescentes. Por esse motivo, o cemitério ficou conhecido como Pretos Novos (criado em 1769 e extinto em 1830). Lá foram enterrados, em covas coletivas, escravos que não resistiam à longa viagem nos navios negreiros vindos da África.
“Este cemitério era conhecido por poucos, esquecido por todos. Um passado funesto, mas importantíssimo para a nossa cidade. Isto representa o Holocausto negro. Aqui embaixo estão enterradas milhares de pessoas. A maioria pré-adolescente. Isto aqui representa um crime contra a humanidade e não pode ser esquecido”, declarou Merced. Além das ossadas, também foram encontradas cerâmicas e conchas.
A notícia sobre a existência de um cemitério de escravos acabou atraindo visitantes do Brasil e de outros países interessados em saber mais sobre a história envolvendo as mortes e o local. “Passamos a abrir a casa para pesquisadores, estudantes, jornalistas, uma média de dez a 15 pessoas por mês”. Novos amigos surgiram, assim como a admiração pelos artefatos e pela história.
Em 2005, ela e o marido compraram mais dois terrenos na mesma rua, um deles se tornou a sede do Instituto de Pesquisa e Memória dos Pretos Novos, fundado naquele ano por Merced, amigos e estudiosos do tema. Dezessete anos depois, Merced e o marido são responsáveis pela manutenção e promoção do instituto, que é também uma galeria de arte e um museu memorial.
Em 2011, mais uma surpresa: na busca por mapear o cemitério, arqueólogos descobriram um sambaqui, sítio pré-histórico formado pelo acúmulo de conchas, moluscos, ossos humanos e animais de mais de 3 mil anos e vestígios do primeiro encontro entre indígenas Tupinambás e portugueses que aqui chegaram pela primeira vez.
A dedicação à causa custou à família sacrifícios que emocionam Merced até hoje. “Fomos proibidos de fazer a obra e, em 1998, tivemos que sair correndo da casa, que ameaçava desabar por causa das escavações e das chuvas. Minhas filhas, na época adolescentes, tiveram que morar em um abrigo na nossa empresa até 2001”, contou entre lágrimas. “Isso ficou nas nossas mãos sem ninguém assumir esta responsabilidade”.
Hoje, o local também conta com um núcleo de pesquisa e oficinas de história sobre os pretos novos. Em 2012, mais de mil pessoas participaram das atividades promovidas pelo núcleo. A Companhia de Desenvolvimento Urbano e Portuário da prefeitura contribui com um pequeno aporte para cobrir os gastos com conta de luz, água e limpeza. A maior parte das receitas vem de doações e do bolso da família. A manutenção das janelas arqueológicas e produção de folhetos explicativos também são de responsabilidade da prefeitura, mas quem cuida e mantém aberto o lugar é Merced e o marido.
domingo, 15 de setembro de 2013
Estudo mostra que Salvador é a cidade mais violenta do Brasil
Jovens entre 14 a 25 anos são as principais vítimas de violência no País
Salvador (Bahia) é a cidade mais violenta em todo o território nacional, de acordo com um estudo sobre a violência no Brasil.
O levantamento mostra que o número de pessoas assassinadas no País é maior do que alguns conflitos armados internacionais. Em três décadas, o aumento foi de 323%.
Depois de Salvador, aparecem Rio Largo (AL) e Maceió (AL). Ananindeua, no Pará, e São Miguel dos Campos, em Alagoas, seguem no ranking da pesquisa.
Os jovens de 14 a 25 anos são as principais vítimas, especialmente de homicídios. A pesquisa mostra também que o maior número de assassinatos é contra pessoas negras. Os crimes acontecem com mais frequência de quinta-feira a domingo.
Em relação aos jovens, a região Sudeste é que apresentou o menor índice. No entanto, a situação é mais complicada no Nordeste. A cidade de Natal ganhou o título de capital mais violenta para jovens. Em três décadas, os crimes subiram 267% no município.
Salvador (Bahia) é a cidade mais violenta em todo o território nacional, de acordo com um estudo sobre a violência no Brasil.
O levantamento mostra que o número de pessoas assassinadas no País é maior do que alguns conflitos armados internacionais. Em três décadas, o aumento foi de 323%.
Depois de Salvador, aparecem Rio Largo (AL) e Maceió (AL). Ananindeua, no Pará, e São Miguel dos Campos, em Alagoas, seguem no ranking da pesquisa.
Os jovens de 14 a 25 anos são as principais vítimas, especialmente de homicídios. A pesquisa mostra também que o maior número de assassinatos é contra pessoas negras. Os crimes acontecem com mais frequência de quinta-feira a domingo.
Em relação aos jovens, a região Sudeste é que apresentou o menor índice. No entanto, a situação é mais complicada no Nordeste. A cidade de Natal ganhou o título de capital mais violenta para jovens. Em três décadas, os crimes subiram 267% no município.
quinta-feira, 5 de setembro de 2013
Na Califórnia, médicos são acusados de coagir detentas à esterilização.
Na Califórnia, médicos contratados pelo Departamento estadual de
Correções e Reabilitação esterilizaram sem a aprovação do Estado
necessária cerca de 150 internas femininas entre 2006 e 2010. Ao menos
148 mulheres foram submetidas a cirurgias de ligação das trompas durante
esses cinco anos, o que viola as regras carcerárias. Além disso,
estima-se que haja mais 100 vítimas desde o fim dos anos 1990, de acordo
com entrevistas e documentos obtidos pelo Center for Investigative
Reporting.
Entre 1997 e 2010, o governo do estado da Califórnia pagou US$ 147.460 pelo procedimento médico, de acordo com dados oficiais. As cirurgias foram agendadas enquanto elas ainda estavam grávidas, na Instituição para Mulheres Corona, ou na Prisão Estadual para Mulheres Valley State Prison, em Chowchilla – que hoje é uma prisão para homens.
Ex-detentas e defensores de prisioneiras acusam a equipe médica das prisões de coagir as mulheres, visando principalmente àquelas consideradas com maior chance de voltar novamente à prisão.
Crystal Nguyen, uma ex-detenta da Valley State Prison que trabalhou na enfermaria da prisão em 2007, disse que frequentemente ela ouvia a equipe médica perguntando para prisioneiras com várias detenções anteriores se elas aceitavam ser esterilizadas.
“Eu pensava ‘Meu Deus, isso não está certo’” Nguyen, 28, disse. “Eles pensam que elas são animais e não querem que elas continuem procriando?”
Outra ex-detenta da Valley State que deu a luz a um filho em outubro de 2006 disse que o obstetra e ginecologista da instituição, o doutor James Heinrich, a pressionava repetidamente para concordar em fazer a cirurgia de ligação das trompas.
“Assim que ele descobriu que eu tinha cinco filhos, ele sugeriu que eu considerasse fazer a cirurgia. Quanto mais perto eu chegava de dar à luz, mais ele falava sobre isso”, conta Christina Cordero, 34, que passou dois anos presa por roubo de carro. “Ele me fez sentir que se eu não fizesse seria uma mãe ruim.”
Cordero, que foi solta em 2008 e agora vive em Upland, California, concordou na época, mas diz “hoje eu queria que nunca tivesse feito”.
As alegações dão eco àquelas feitas quase meio século atrás, quando esterilizações forçadas de mulheres prisioneiras, doentes mentais e pobres eram comuns na California. Essas práticas foram banidas pelos deputados locais em 1979.
“Crianças indesejadas”
Em entrevista para o Center for Investigative Reporting, Heinrich disse que ele provia um importante serviço para mulheres pobres sujeitas a risco de saúde em alguma gravidez futura por conta de cesarianas feitas no passado. Com 69 anos, o médico da região de Bay Area negou que tenha pressionado as pacientes e se disse surpreso ao saber que os profissionais locais cobraram pelas cirurgias. Segundo ele, o valor de US$ 147.460 pago é pequeno.
“Em um período de 10 anos, esta não é uma enorme quantidade de dinheiro comparada com o que você economiza em bem-estar por essas crianças indesejadas, se as mulheres continuassem procriando”, disse Heirinch.
O chefe da equipe médica da Valley State Prison (entre 2005 e 2008) qualificou as cirurgias como um “empoderamento” para as mulheres detentas, oferecendo a elas as mesmas opções que outras têm fora das cadeias. Daun Martin, um psicólogo, também argumentou que algumas mulheres grávidas, especialmente aquelas viciadas em drogas ou que viviam nas ruas, cometiam crimes para voltar para prisões e receber melhores cuidados médicos.
“Eu critico essas mulheres por manipularem o sistema porque estão grávidas? É claro que não,” diz Martin, 73. “Mas eu não acho que isso deva acontecer. E eu gostaria de achar maneiras de diminuir isso.” Martin negou ter aprovado essas cirurgias, mas ao menos 60 laqueaduras foram feitas em Valley State enquanto ele era o responsável, de acordo com a base de dados de contratos do Estado.
A doutora Jacqueline Long, que ocupa o mesmo cargo que Martin na California Institution for Women, se recusou a discutir porque internas sob sua responsabilidade foram submetidas a cirurgias de ligação das trompas sem a devida autorização. Porém, um ex-oficial da prisão de Corona, William Kelsey, disse que havia desacordo sobre o procedimento entre os membros da equipe.
Em uma reunião no fim de 2005, alguns oficiais corregedores discordaram da equipe médica de Long a respeito da inclusão do procedimento de laqueadura a um contrato com um hospital local, segundo Kelsey. Os oficias consideraram que as cirurgias não eram essenciais para os cuidados médicos e questionaram se o estado deveria pagar por elas.
“Eles não achavam que criminosas e internas tinham o direito aos cuidados que estávamos proporcionando e deixaram suas opiniões pessoais prevalecerem”, disse Kelsey. No entanto, o serviço foi incluído e Kelsey diz que as reclamações diminuíram.
Leis estaduais e federais proíbem a esterilização de detentas com recursos federais, o que reflete a preocupação de que as prisioneiras se sintam pressionadas a se submeter ao procedimento. Em vez disso, a Califórnia usou verba estadual, mas desde 1994, o procedimento precisa ser aprovado caso a caso por médicos oficiais da cidade de Sacramento.
“Nos sentimos um pouco nauseados”
Até agora, nenhum pedido de ligação de trompas foi apresentado para o comitê de saúde responsável para aprovar cirurgias mais sensíveis, segundo o médico Ricki Barnett, que acompanha os serviços médicos e gastos para a Corporação de Recebimento de Saúde das Prisões da Califórnia. Barnett está à frente do comitê desde 2008.
“Quando ouvimos falar nas laqueaduras, nos sentimos um pouco nauseados,” disse Barnett. “A questão não era que as pessoas estavam conspirando, ou sendo coercitivas ou descuidadas. O que me preocupa é que as pessoas nunca deram um passo para trás para imaginar o que elas sentiriam se estivessem no lugar das detentas, e o que o futuro delas reservava caso realizassem o procedimento.”
Jeffrey Callison, porta-voz do departamento de correções do Estado da Califórnia, disse que o órgão não poderia comentar porque não tem mais acesso aos arquivos médicos das internas. “Todos os cuidados médicos para as detentas, do passado e do presente, estão sob controle do Escritório da Recebedoria,” Callison escreveu em um email.
O recebedor supervisionou os cuidados médicos em todas as 33 prisões estaduais desde 2006, quando o juiz Thelton Henderson, do distrito norte da Califórnia, decidiu que o sistema de saúde era tão precário que violava a proibição constitucional a punições cruéis e incomuns. Registros mostram que o Escritório da Recebedoria estava ciente de que as esterilizações estavam acontecendo.
Em setembro de 2008, o Justice Now, grupo de direitos prisionais, recebeu uma resposta sobre o tratamento dado a internas grávidas escrita por Tim Rougeux, recebedor-chefe na época. A carta dizia que as duas prisões ofereciam a cirurgia de esterilização para mulheres.
Mas nada mudou até 2010, quando a organização com sede em Oakland entrou com um pedido de acesso aos arquivos públicos e fez uma reclamação ao escritório da senadora Carol Liu, diretora do Comitê para Mulheres e Crianças no Sistema de Justiça Criminal do Senado americano.
Por telefone, Barnett disse que o Escritório do Recebedor pediu a ela para pesquisar sobre o tema. Depois de analisar arquivos médicos e financeiros, Barnett se encontrou em 2010 com funcionários em ambas as prisões femininas e contratou profissionais de saúde afiliados a hospitais na região.
Durante esses encontros, disse a eles para parar com as esterilizações das prisioneiras. Em resposta, segundo ela, eles lhe deram uma bronca.
Barnett relembra que a restrição de idade de 16 anos para fazer ligações das trompas parecia novidade para os administradores de saúde da prisão, médicos, enfermeiras e clínicos. Segundo ela, nenhum dos médicos pensou que precisasse de permissão para realizar as cirurgias nas internas. “Todos estavam agindo com base no fato de que era uma coisa perfeitamente normal de se fazer”, diz ela.
Fatores de risco
Martin, gerente médica da Prisão Estadual Valley, diz que ela e sua equipe descobriram que o procedimento era restrito cinco anos atrás. Alguém havia feito uma reclamação sobre a esterilização de uma interna que tinha pelo menos seis filhos, e isso a levou a pesquisar as regras médicas da prisão. Depois de descobrir sobre as restrições, Martin disse ao CIR que ela e Heinrich começaram a procurar jeitos de burlá-las. Segundo conta, os dois acreditavam que as regras eram injustas para as mulheres.
“Tenho certeza que em pelo menos duas ocasiões, (Heinrich) veio falar comigo dizendo ‘Mary Smith está passando por uma emergência médica e nós precisamos fazer uma ligação de trompas. Ela tem seis filhos. Podemos fazer?’”, diz Martin. “E eu disse, ‘Bem, se você documentar como emergência médica, talvez.’”
Heinrich diz que ofereceu ligações de trompa somente para internas grávidas que tinham histórico de pelo menos três cesarianas. Segundo ele, nesse caso uma nova gravidez poderia ser perigosa porque o tecido do útero poderia romper-se, resultando em uma grande perda de sangue e possibilidade de morte. “Era um problema médico que nós tínhamos que avisar,” diz Heinrich. “É responsabilidade do médico que está trabalhando no parto… fazer com que ela saiba o que está acontecendo. Até corremos risco se não dizemos a elas.”
Mas ex-internas contam uma história bem diferente
Michelle Anderson, que teve um bebê em dezembro de 2006 enquanto estava na prisão de Valley, diz que ela tinha feito apenas uma cesariana. Anderson, 44, foi questionada várias vezes se concordava com a esterilização, mas jamais lhe disseram que havia fatores de risco envolvidos. Ela recusou.
Nikki Montano também tinha somente uma cesariana antes de aterrisar em Valley em 2008, grávida e batalhando contra o vício em drogas. Montano, 42, estava cumprindo pena por roubo, falsificação e recebimento de propriedade roubada. Mãe de sete crianças, ela disse que nem Heinrich, nem a equipe médica disseram a ela o porquê da necessidade de uma ligação de trompas.
“Eu pensei que era o que acontecia na prisão – eque esse era o melhor médico que iria conseguir”, diz Montano. “Ele nunca me disse nada sobre nada.” Montano concordou com a cirurgia e diz que ainda considera o procedimento como positivo em sua vida.
A Dra. Carolyn Sufrin, obstetra e ginecologista no Hospital Geral de São Francisco, que também é professora na Universidade de São Francisco, diz que não é uma prática comum oferecer ligações de trompas a mulheres que já realizaram cesarianas. Ela confirma que ter múltiplas cesarianas aumenta o risco de complicações, mas mesmo assim, segundo ela, é mais apropriado oferecer à mulher maneiras reversíveis de controle de natalidade, como aparelhos intrauterinos ou implantes.
“Cada cesariana, cada situação, é diferente”, diz Sufrin. “Algumas mulheres com cesarianas prévias não têm nenhum problema ou risco.”
Histórico de eugenia
As ligações de trompa representam uma pequena porção do tratamento médico fornecido a internas grávidas. Estatísticas e um relatório do Escritório de Acolhida na Prisão mostram que entre 2000 e 2010, 2.423 mulheres realizaram partos enquanto estavam presas, na Califórna, custando ao Estado americano US$ 2,7 milhões de dólares. Menos de uma em cada dez foram cirurgicamente esterilizadas.
Mas os números não contam a história inteira. A Califórnia ainda lida com um passado feio: sujeitos a leis de esterilização compulsória na Califórnia e em outros 31 estados dos Estados Unidos, minorias pobres, deficientes físicos, doentes mentais e criminosos foram apontados como inferiores e esterilizados como maneira de prevenir a propagação de seus genes.
Essa prática ficou conhecida como eugenia.
Entre 1909 e 1964, cerca de 20 mil mulheres e homens na Califórnia passaram por cirurgias para evitar a reprodução – fazendo do estado o mais prolífico em esterilização nos Estados Unidos. Historiadores dizem que, nos anos 1930, a Alemanha nazista chegou a buscar conselhos com líderes eugenistas do Estado.
Em 2003, o Senado realizou duas audiências para expor essa história, com os depoimentos de pesquisadores, acadêmicos e funcionários do governo. Em resposta, o então Procurador Geral Bill Lickyer e o governado Gray Davis apresentaram desculpas oficiais.
“Nossos corações estão pesados pela dor que a eugenia causou. Foi um capítulo triste e lamentável da história do nosso estado. Algo que nunca mais deve ser repetido”, diz Davis na declaração.
O que faltou nas audiências foi a perspectiva dos funcionários das prisões estaduais. O então diretor de correções, Edward Alameida Jr, informou o comitê do Senado que o sistema prisional não tinha registros sobre esterilizações.
“Enquanto obviamente esse foi um capítulo negro da história da Califórnia, o CDC (sigla em inglês para Departamento de Correções e Reabilitação da Califórnia) representou um papel minúsculo”, escreveu Alameida em uma carta datada de junho de 2003. “Nossa participação, portanto, em sua audiência não forneceria nenhuma informação substancial nessa questão e eu não acredito que nossa presença iria contribuir de alguma maneira para seus objetivos.”
Porém, Alexandra Minna Stern, professor da Universidade de Michigan e especialista no processo de esterilização da Califórnia, cita a atividade da prisão estadual entre as questões pendentes daquela era. Stern depôs durante as audiências, dizendo que ela encontrou em mãos privadas e em arquivos de universidade provas de 600 esterilizações realizadas na Prisão Estadual de San Quentin, anteriores a 1941, que não estavam incluídas nos números oficiais. Segundo disse ao comitê, os esterilizadores da Califórnia viam seu trabalho como humano e econômico.
“Um dos objetivos – e isso é crítico para entender a história da eugenia na Califórnia – era economizar dinheiro: como reduzir os gastos com bem-estar social,” disse Stern, de acordo com a transcrição de sua audiência. “E a esterilização está muito ligada a isso.”
Pressionada à esterilização durante o trabaho de parto
A Corte Suprema dos Estados Unidos, depois da indignação pública e dominante sobre a eugenia e abusos similares com esterilizações no Alabama e em Nova York, gerou novos requisitos nos anos 1970 para que médico informassem completamente os pacientes. Desde então, é ilegal pressionar qualquer pessoa para que ela seja esterilizada ou pedir seu consentimento durante o trabalho de parto ou o nascimento da criança.
Ainda assim, Kimberly Jeffrey diz que foi pressionada por um médico enquanto estava sedada e amarrada a uma mesa cirúrgica para uma cesárea em 2010, durante uma temporada em Valley por violação da condicional. Jeffrey, 43, estava horrorizada, conta, e resistiu.
“Ele disse, ‘Então, nós vamos fazer a ligação das trompas, certo?’”, conta Jeffrey. “Eu disse, ‘Ligação de trompas? Do que você está falando? Eu não quero que seja feito nenhum procedimento. Só quero ter o meu bebê’. Eu entrei em pânico.”
Jeffrey forneceu cópias dos arquivos oficiais hospitalares e de sua prisão ao CIR. Os arquivos mostram que Jeffrey rejeitou a ligação de trompas oferecida durante um check-up pré-natal em dezembro de 2009, no consultório de Heinrich. Um relatório médico da cesária de Jeffrey um mês depois aponta que ela novamente havia recusado a ligação de trompas depois que chegou ao Hospital Comunidade Madera. Segundo ela, em nenhum momento, ninguém deu qualquer justificativa médica para realizar a ligação de trompas.
Essa experiência ainda assombra Jeffrey, que vive em São Francisco com seu filho de três anos, Noel. Ela trabalha com grupos buscando melhorar as condições para prisioneiras e tem feito lobby com legisladores em Sacramento. Jeffrey recentemente realizou a prova do vestibular e espera lutar por um diploma na Universidade Federal de São Francisco.
“Ter sido tratada como se eu fosse menos que um ser humano gerou em mim um desespero”, diz.
Os funcionários das prisão estadual “são os verdadeiros ofensores”, acrescentou ela. “Eles repetidamente me ofenderam ao negar o meu direito à dignidade e humanidade.”
Dorothy Roberts, professor de direito na Universidade da Pensilvânia e especialista em esterilização, diz que tribunais concluíram que solicitar aprovação para o procedimento de esterilização durante o trabalho de parto é coercitivo, isso porque a dor e o desconforto podem comprometer a habilidade da mulher em tomar a decisão.
“Se isso acontecesse em uma prisão federal, seria ilegal”, diz Roberts. “Existem situações específicas em que não se pode dizer que houve consentimento, e uma delas é durante o nascimento da criança ou o trabalho de parto. Nenhuma mulher deve dar consentimento enquanto está em uma mesa de operação.”
Heinrich considera as questões levantadas sobre seu tratamento médico injustas e diz que suspeita dos motivos das mulheres. Ele insiste que trabalhou duro para dar às internas tratamento médico de alta qualidade, e acrescenta que centenas de prisioneiras poderiam confirmar isso.
“Todas queriam que fosse feito”, afirma ele sobre as esterilizações. “Se elas vem um ou dois anos depois dizendo ‘alguém me forçou a fazer isso’, isso é mentira. Isso é alguém procurando receber esmola do Estado”, diz. “Eu acho que o único motivo para elas fazerem isso não é porque se sentem injustiçadas, mas porque querem continuar com o subsídio do Estado, de algum jeito.”
Barnett se recusou a responder se as práticas de Heinrich foram revisadas pelo Escritório de Acolhida, citando leis de confidencialidade de empregados. Inicialmente, ela disse acreditar que Heinrich havia deixado o sistema prisional. Entretanto, logo depois de se aposentar em 2011, Heinrich retornou em outro cargo. Ele atualmente é um dos clínicos contratados pela prisão.
Barnett ressaltou que buscava apenas acabar com as esterilizações na prisão, não investigar funcionários ou entrevistar internas sobre os abusos que podem ter ocorrido. “Se o Dr. Heinrich disse coisas impróprias? Não posso dizer”, acrescentou ela. “Se o nosso processo é suficientemente draconiano para eliminar maus atores? Nós temos vários processos cvis contra eles. São 100% eficazes? É o melhor processo que inventamos? Não, claro que não.”
Fonte.
Entre 1997 e 2010, o governo do estado da Califórnia pagou US$ 147.460 pelo procedimento médico, de acordo com dados oficiais. As cirurgias foram agendadas enquanto elas ainda estavam grávidas, na Instituição para Mulheres Corona, ou na Prisão Estadual para Mulheres Valley State Prison, em Chowchilla – que hoje é uma prisão para homens.
Ex-detentas e defensores de prisioneiras acusam a equipe médica das prisões de coagir as mulheres, visando principalmente àquelas consideradas com maior chance de voltar novamente à prisão.
Crystal Nguyen, uma ex-detenta da Valley State Prison que trabalhou na enfermaria da prisão em 2007, disse que frequentemente ela ouvia a equipe médica perguntando para prisioneiras com várias detenções anteriores se elas aceitavam ser esterilizadas.
“Eu pensava ‘Meu Deus, isso não está certo’” Nguyen, 28, disse. “Eles pensam que elas são animais e não querem que elas continuem procriando?”
Outra ex-detenta da Valley State que deu a luz a um filho em outubro de 2006 disse que o obstetra e ginecologista da instituição, o doutor James Heinrich, a pressionava repetidamente para concordar em fazer a cirurgia de ligação das trompas.
“Assim que ele descobriu que eu tinha cinco filhos, ele sugeriu que eu considerasse fazer a cirurgia. Quanto mais perto eu chegava de dar à luz, mais ele falava sobre isso”, conta Christina Cordero, 34, que passou dois anos presa por roubo de carro. “Ele me fez sentir que se eu não fizesse seria uma mãe ruim.”
Cordero, que foi solta em 2008 e agora vive em Upland, California, concordou na época, mas diz “hoje eu queria que nunca tivesse feito”.
As alegações dão eco àquelas feitas quase meio século atrás, quando esterilizações forçadas de mulheres prisioneiras, doentes mentais e pobres eram comuns na California. Essas práticas foram banidas pelos deputados locais em 1979.
“Crianças indesejadas”
Em entrevista para o Center for Investigative Reporting, Heinrich disse que ele provia um importante serviço para mulheres pobres sujeitas a risco de saúde em alguma gravidez futura por conta de cesarianas feitas no passado. Com 69 anos, o médico da região de Bay Area negou que tenha pressionado as pacientes e se disse surpreso ao saber que os profissionais locais cobraram pelas cirurgias. Segundo ele, o valor de US$ 147.460 pago é pequeno.
“Em um período de 10 anos, esta não é uma enorme quantidade de dinheiro comparada com o que você economiza em bem-estar por essas crianças indesejadas, se as mulheres continuassem procriando”, disse Heirinch.
O chefe da equipe médica da Valley State Prison (entre 2005 e 2008) qualificou as cirurgias como um “empoderamento” para as mulheres detentas, oferecendo a elas as mesmas opções que outras têm fora das cadeias. Daun Martin, um psicólogo, também argumentou que algumas mulheres grávidas, especialmente aquelas viciadas em drogas ou que viviam nas ruas, cometiam crimes para voltar para prisões e receber melhores cuidados médicos.
“Eu critico essas mulheres por manipularem o sistema porque estão grávidas? É claro que não,” diz Martin, 73. “Mas eu não acho que isso deva acontecer. E eu gostaria de achar maneiras de diminuir isso.” Martin negou ter aprovado essas cirurgias, mas ao menos 60 laqueaduras foram feitas em Valley State enquanto ele era o responsável, de acordo com a base de dados de contratos do Estado.
A doutora Jacqueline Long, que ocupa o mesmo cargo que Martin na California Institution for Women, se recusou a discutir porque internas sob sua responsabilidade foram submetidas a cirurgias de ligação das trompas sem a devida autorização. Porém, um ex-oficial da prisão de Corona, William Kelsey, disse que havia desacordo sobre o procedimento entre os membros da equipe.
Em uma reunião no fim de 2005, alguns oficiais corregedores discordaram da equipe médica de Long a respeito da inclusão do procedimento de laqueadura a um contrato com um hospital local, segundo Kelsey. Os oficias consideraram que as cirurgias não eram essenciais para os cuidados médicos e questionaram se o estado deveria pagar por elas.
“Eles não achavam que criminosas e internas tinham o direito aos cuidados que estávamos proporcionando e deixaram suas opiniões pessoais prevalecerem”, disse Kelsey. No entanto, o serviço foi incluído e Kelsey diz que as reclamações diminuíram.
Leis estaduais e federais proíbem a esterilização de detentas com recursos federais, o que reflete a preocupação de que as prisioneiras se sintam pressionadas a se submeter ao procedimento. Em vez disso, a Califórnia usou verba estadual, mas desde 1994, o procedimento precisa ser aprovado caso a caso por médicos oficiais da cidade de Sacramento.
“Nos sentimos um pouco nauseados”
Até agora, nenhum pedido de ligação de trompas foi apresentado para o comitê de saúde responsável para aprovar cirurgias mais sensíveis, segundo o médico Ricki Barnett, que acompanha os serviços médicos e gastos para a Corporação de Recebimento de Saúde das Prisões da Califórnia. Barnett está à frente do comitê desde 2008.
“Quando ouvimos falar nas laqueaduras, nos sentimos um pouco nauseados,” disse Barnett. “A questão não era que as pessoas estavam conspirando, ou sendo coercitivas ou descuidadas. O que me preocupa é que as pessoas nunca deram um passo para trás para imaginar o que elas sentiriam se estivessem no lugar das detentas, e o que o futuro delas reservava caso realizassem o procedimento.”
Jeffrey Callison, porta-voz do departamento de correções do Estado da Califórnia, disse que o órgão não poderia comentar porque não tem mais acesso aos arquivos médicos das internas. “Todos os cuidados médicos para as detentas, do passado e do presente, estão sob controle do Escritório da Recebedoria,” Callison escreveu em um email.
O recebedor supervisionou os cuidados médicos em todas as 33 prisões estaduais desde 2006, quando o juiz Thelton Henderson, do distrito norte da Califórnia, decidiu que o sistema de saúde era tão precário que violava a proibição constitucional a punições cruéis e incomuns. Registros mostram que o Escritório da Recebedoria estava ciente de que as esterilizações estavam acontecendo.
Em setembro de 2008, o Justice Now, grupo de direitos prisionais, recebeu uma resposta sobre o tratamento dado a internas grávidas escrita por Tim Rougeux, recebedor-chefe na época. A carta dizia que as duas prisões ofereciam a cirurgia de esterilização para mulheres.
Mas nada mudou até 2010, quando a organização com sede em Oakland entrou com um pedido de acesso aos arquivos públicos e fez uma reclamação ao escritório da senadora Carol Liu, diretora do Comitê para Mulheres e Crianças no Sistema de Justiça Criminal do Senado americano.
Por telefone, Barnett disse que o Escritório do Recebedor pediu a ela para pesquisar sobre o tema. Depois de analisar arquivos médicos e financeiros, Barnett se encontrou em 2010 com funcionários em ambas as prisões femininas e contratou profissionais de saúde afiliados a hospitais na região.
Durante esses encontros, disse a eles para parar com as esterilizações das prisioneiras. Em resposta, segundo ela, eles lhe deram uma bronca.
Barnett relembra que a restrição de idade de 16 anos para fazer ligações das trompas parecia novidade para os administradores de saúde da prisão, médicos, enfermeiras e clínicos. Segundo ela, nenhum dos médicos pensou que precisasse de permissão para realizar as cirurgias nas internas. “Todos estavam agindo com base no fato de que era uma coisa perfeitamente normal de se fazer”, diz ela.
Fatores de risco
Martin, gerente médica da Prisão Estadual Valley, diz que ela e sua equipe descobriram que o procedimento era restrito cinco anos atrás. Alguém havia feito uma reclamação sobre a esterilização de uma interna que tinha pelo menos seis filhos, e isso a levou a pesquisar as regras médicas da prisão. Depois de descobrir sobre as restrições, Martin disse ao CIR que ela e Heinrich começaram a procurar jeitos de burlá-las. Segundo conta, os dois acreditavam que as regras eram injustas para as mulheres.
“Tenho certeza que em pelo menos duas ocasiões, (Heinrich) veio falar comigo dizendo ‘Mary Smith está passando por uma emergência médica e nós precisamos fazer uma ligação de trompas. Ela tem seis filhos. Podemos fazer?’”, diz Martin. “E eu disse, ‘Bem, se você documentar como emergência médica, talvez.’”
Heinrich diz que ofereceu ligações de trompa somente para internas grávidas que tinham histórico de pelo menos três cesarianas. Segundo ele, nesse caso uma nova gravidez poderia ser perigosa porque o tecido do útero poderia romper-se, resultando em uma grande perda de sangue e possibilidade de morte. “Era um problema médico que nós tínhamos que avisar,” diz Heinrich. “É responsabilidade do médico que está trabalhando no parto… fazer com que ela saiba o que está acontecendo. Até corremos risco se não dizemos a elas.”
Mas ex-internas contam uma história bem diferente
Michelle Anderson, que teve um bebê em dezembro de 2006 enquanto estava na prisão de Valley, diz que ela tinha feito apenas uma cesariana. Anderson, 44, foi questionada várias vezes se concordava com a esterilização, mas jamais lhe disseram que havia fatores de risco envolvidos. Ela recusou.
Nikki Montano também tinha somente uma cesariana antes de aterrisar em Valley em 2008, grávida e batalhando contra o vício em drogas. Montano, 42, estava cumprindo pena por roubo, falsificação e recebimento de propriedade roubada. Mãe de sete crianças, ela disse que nem Heinrich, nem a equipe médica disseram a ela o porquê da necessidade de uma ligação de trompas.
“Eu pensei que era o que acontecia na prisão – eque esse era o melhor médico que iria conseguir”, diz Montano. “Ele nunca me disse nada sobre nada.” Montano concordou com a cirurgia e diz que ainda considera o procedimento como positivo em sua vida.
A Dra. Carolyn Sufrin, obstetra e ginecologista no Hospital Geral de São Francisco, que também é professora na Universidade de São Francisco, diz que não é uma prática comum oferecer ligações de trompas a mulheres que já realizaram cesarianas. Ela confirma que ter múltiplas cesarianas aumenta o risco de complicações, mas mesmo assim, segundo ela, é mais apropriado oferecer à mulher maneiras reversíveis de controle de natalidade, como aparelhos intrauterinos ou implantes.
“Cada cesariana, cada situação, é diferente”, diz Sufrin. “Algumas mulheres com cesarianas prévias não têm nenhum problema ou risco.”
Histórico de eugenia
As ligações de trompa representam uma pequena porção do tratamento médico fornecido a internas grávidas. Estatísticas e um relatório do Escritório de Acolhida na Prisão mostram que entre 2000 e 2010, 2.423 mulheres realizaram partos enquanto estavam presas, na Califórna, custando ao Estado americano US$ 2,7 milhões de dólares. Menos de uma em cada dez foram cirurgicamente esterilizadas.
Mas os números não contam a história inteira. A Califórnia ainda lida com um passado feio: sujeitos a leis de esterilização compulsória na Califórnia e em outros 31 estados dos Estados Unidos, minorias pobres, deficientes físicos, doentes mentais e criminosos foram apontados como inferiores e esterilizados como maneira de prevenir a propagação de seus genes.
Essa prática ficou conhecida como eugenia.
Entre 1909 e 1964, cerca de 20 mil mulheres e homens na Califórnia passaram por cirurgias para evitar a reprodução – fazendo do estado o mais prolífico em esterilização nos Estados Unidos. Historiadores dizem que, nos anos 1930, a Alemanha nazista chegou a buscar conselhos com líderes eugenistas do Estado.
Em 2003, o Senado realizou duas audiências para expor essa história, com os depoimentos de pesquisadores, acadêmicos e funcionários do governo. Em resposta, o então Procurador Geral Bill Lickyer e o governado Gray Davis apresentaram desculpas oficiais.
“Nossos corações estão pesados pela dor que a eugenia causou. Foi um capítulo triste e lamentável da história do nosso estado. Algo que nunca mais deve ser repetido”, diz Davis na declaração.
O que faltou nas audiências foi a perspectiva dos funcionários das prisões estaduais. O então diretor de correções, Edward Alameida Jr, informou o comitê do Senado que o sistema prisional não tinha registros sobre esterilizações.
“Enquanto obviamente esse foi um capítulo negro da história da Califórnia, o CDC (sigla em inglês para Departamento de Correções e Reabilitação da Califórnia) representou um papel minúsculo”, escreveu Alameida em uma carta datada de junho de 2003. “Nossa participação, portanto, em sua audiência não forneceria nenhuma informação substancial nessa questão e eu não acredito que nossa presença iria contribuir de alguma maneira para seus objetivos.”
Porém, Alexandra Minna Stern, professor da Universidade de Michigan e especialista no processo de esterilização da Califórnia, cita a atividade da prisão estadual entre as questões pendentes daquela era. Stern depôs durante as audiências, dizendo que ela encontrou em mãos privadas e em arquivos de universidade provas de 600 esterilizações realizadas na Prisão Estadual de San Quentin, anteriores a 1941, que não estavam incluídas nos números oficiais. Segundo disse ao comitê, os esterilizadores da Califórnia viam seu trabalho como humano e econômico.
“Um dos objetivos – e isso é crítico para entender a história da eugenia na Califórnia – era economizar dinheiro: como reduzir os gastos com bem-estar social,” disse Stern, de acordo com a transcrição de sua audiência. “E a esterilização está muito ligada a isso.”
Pressionada à esterilização durante o trabaho de parto
A Corte Suprema dos Estados Unidos, depois da indignação pública e dominante sobre a eugenia e abusos similares com esterilizações no Alabama e em Nova York, gerou novos requisitos nos anos 1970 para que médico informassem completamente os pacientes. Desde então, é ilegal pressionar qualquer pessoa para que ela seja esterilizada ou pedir seu consentimento durante o trabalho de parto ou o nascimento da criança.
Ainda assim, Kimberly Jeffrey diz que foi pressionada por um médico enquanto estava sedada e amarrada a uma mesa cirúrgica para uma cesárea em 2010, durante uma temporada em Valley por violação da condicional. Jeffrey, 43, estava horrorizada, conta, e resistiu.
“Ele disse, ‘Então, nós vamos fazer a ligação das trompas, certo?’”, conta Jeffrey. “Eu disse, ‘Ligação de trompas? Do que você está falando? Eu não quero que seja feito nenhum procedimento. Só quero ter o meu bebê’. Eu entrei em pânico.”
Jeffrey forneceu cópias dos arquivos oficiais hospitalares e de sua prisão ao CIR. Os arquivos mostram que Jeffrey rejeitou a ligação de trompas oferecida durante um check-up pré-natal em dezembro de 2009, no consultório de Heinrich. Um relatório médico da cesária de Jeffrey um mês depois aponta que ela novamente havia recusado a ligação de trompas depois que chegou ao Hospital Comunidade Madera. Segundo ela, em nenhum momento, ninguém deu qualquer justificativa médica para realizar a ligação de trompas.
Essa experiência ainda assombra Jeffrey, que vive em São Francisco com seu filho de três anos, Noel. Ela trabalha com grupos buscando melhorar as condições para prisioneiras e tem feito lobby com legisladores em Sacramento. Jeffrey recentemente realizou a prova do vestibular e espera lutar por um diploma na Universidade Federal de São Francisco.
“Ter sido tratada como se eu fosse menos que um ser humano gerou em mim um desespero”, diz.
Os funcionários das prisão estadual “são os verdadeiros ofensores”, acrescentou ela. “Eles repetidamente me ofenderam ao negar o meu direito à dignidade e humanidade.”
Dorothy Roberts, professor de direito na Universidade da Pensilvânia e especialista em esterilização, diz que tribunais concluíram que solicitar aprovação para o procedimento de esterilização durante o trabalho de parto é coercitivo, isso porque a dor e o desconforto podem comprometer a habilidade da mulher em tomar a decisão.
“Se isso acontecesse em uma prisão federal, seria ilegal”, diz Roberts. “Existem situações específicas em que não se pode dizer que houve consentimento, e uma delas é durante o nascimento da criança ou o trabalho de parto. Nenhuma mulher deve dar consentimento enquanto está em uma mesa de operação.”
Heinrich considera as questões levantadas sobre seu tratamento médico injustas e diz que suspeita dos motivos das mulheres. Ele insiste que trabalhou duro para dar às internas tratamento médico de alta qualidade, e acrescenta que centenas de prisioneiras poderiam confirmar isso.
“Todas queriam que fosse feito”, afirma ele sobre as esterilizações. “Se elas vem um ou dois anos depois dizendo ‘alguém me forçou a fazer isso’, isso é mentira. Isso é alguém procurando receber esmola do Estado”, diz. “Eu acho que o único motivo para elas fazerem isso não é porque se sentem injustiçadas, mas porque querem continuar com o subsídio do Estado, de algum jeito.”
Barnett se recusou a responder se as práticas de Heinrich foram revisadas pelo Escritório de Acolhida, citando leis de confidencialidade de empregados. Inicialmente, ela disse acreditar que Heinrich havia deixado o sistema prisional. Entretanto, logo depois de se aposentar em 2011, Heinrich retornou em outro cargo. Ele atualmente é um dos clínicos contratados pela prisão.
Barnett ressaltou que buscava apenas acabar com as esterilizações na prisão, não investigar funcionários ou entrevistar internas sobre os abusos que podem ter ocorrido. “Se o Dr. Heinrich disse coisas impróprias? Não posso dizer”, acrescentou ela. “Se o nosso processo é suficientemente draconiano para eliminar maus atores? Nós temos vários processos cvis contra eles. São 100% eficazes? É o melhor processo que inventamos? Não, claro que não.”
Fonte.
domingo, 1 de setembro de 2013
“Eu não sou preconceituoso, mas…”
Quantas vezes ouvimos essa frase?! E que sempre segue de alguma constatação homofóbica, machista ou racista!!
Se ouvir “Eu não sou preconceituoso, mas…”, corra para longe
Eu não sou preconceituoso, mas…
Esta frase é deliciosa. Não é um aviso de “olha, não encare isso como preconceito”, mas um alerta. Do tipo “segura, que lá vem um preconceito”. A ressalva, completamente inútil, serve, pelo contrário, para reforçar que a pessoa em questão é exatamente aquilo pelo qual não gostaria de ser tomada.
Cultivamos nosso medo e ódio, mas, às vezes, pega mal expressá-los em público assim, tão abertamente. Porque pode ser visto como crime ou delito. Ou serem criticados – mesmo que os críticos compartilhem da mesma visão de mundo que você. E, além do mais, como todos sabemos, o Brasil é o país da alegre miscigenação, em que todos são considerados iguais em direitos. Os que discordam disso devem se mudar ou levar um corretivo para deixarem de serem bestas. É isso: ame-o ou deixe-o.
É engraçado como o preconceituoso não se vê como tal. Quem solta um “Eu não sou preconceituoso, mas…” separa essa palavra de seu significado e pensa o preconceito como algo abstrato, etéreo. Uma ideia que não teria nada a ver com tratar pessoas de forma diferente ou fazer um julgamento prévio de seu caráter devido à sua classe social, orientação sexual, cor de pele, etnia, nacionalidade, identidade de gênero, pela presença de alguma deficiência e por aí vai.
E cabe tanta abobrinha em um “Eu não sou preconceituoso, mas…” que ele se tornou o novo “Amar é…”, presente naqueles livrinhos simpáticos da minha infância.
Duvida?
Eu não sou preconceituoso, mas bandido bom é bandido morto.
Eu não sou preconceituoso, mas baiano é foda. Quando não faz na entrada faz na saída.
Eu não sou preconceituoso, mas mulher no volante é um perigo.
Eu não sou preconceituoso, mas tenho medo desses escurinhos mal encarados qe pedem dinheiro no semáforo.
Eu não sou preconceituoso, mas cigano é tudo vagabundo.
Eu não sou preconceituoso, mas os gays podiam não se beijar em público. Assim, eles atraem a violência para eles.
Eu não sou preconceituoso, mas acho o ó ter um terreiro de macumba na nossa rua.
Eu não sou preconceituoso, mas é aquela coisa: não estudou, vira lixeiro.
Eu não sou preconceituoso, mas não gostaria de ver minha filha casada com um negro. Não por ele, é claro, mas eles sofreriam muito preconceito.
Eu não sou preconceituoso, mas esses sem-teto são todos vagabundos.
Eu não sou preconceituoso, mas chega de terra para índio, né? Se eles ainda produzissem para o país, mas nem isso acontece.
Eu não sou preconceituoso, mas esses mendigos deviam ir para a periferia onde não incomodariam ninguém.
Eu não sou preconceituoso, mas sabe como é esse pessoal de esquerda. É tudo petralha.
Eu não sou preconceituoso, mas sabe como é pessoal da direito. É tudo tucanalha.
Eu não sou preconceituoso, mas São Paulo é São Paulo, né amiga? Não é Fortaleza.
Eu não sou preconceituoso, mas esse aeroporto tá parecendo uma rodoviária.
Eu não sou preconceituoso, mas adoro esse shopping. Só tem gente bonita por aqui.
Eu não sou preconceituoso, mas sobe o vidro, amor. Você não tá nos Jardins.
Eu não sou preconceituosa, mas vocês não acham que essas médicas cubanas têm cara de empregada doméstica?
Cuidado, seja sutil. Preconceito é para ser dito, repetido e aplicado, mas com naturalidade. Diluído no dia a dia, aparece como uma forma de manter a ordem das coisas e de lembrar quem manda. E quem obedece.
Leonardo Sakamoto
Se ouvir “Eu não sou preconceituoso, mas…”, corra para longe
Eu não sou preconceituoso, mas…
Esta frase é deliciosa. Não é um aviso de “olha, não encare isso como preconceito”, mas um alerta. Do tipo “segura, que lá vem um preconceito”. A ressalva, completamente inútil, serve, pelo contrário, para reforçar que a pessoa em questão é exatamente aquilo pelo qual não gostaria de ser tomada.
Cultivamos nosso medo e ódio, mas, às vezes, pega mal expressá-los em público assim, tão abertamente. Porque pode ser visto como crime ou delito. Ou serem criticados – mesmo que os críticos compartilhem da mesma visão de mundo que você. E, além do mais, como todos sabemos, o Brasil é o país da alegre miscigenação, em que todos são considerados iguais em direitos. Os que discordam disso devem se mudar ou levar um corretivo para deixarem de serem bestas. É isso: ame-o ou deixe-o.
É engraçado como o preconceituoso não se vê como tal. Quem solta um “Eu não sou preconceituoso, mas…” separa essa palavra de seu significado e pensa o preconceito como algo abstrato, etéreo. Uma ideia que não teria nada a ver com tratar pessoas de forma diferente ou fazer um julgamento prévio de seu caráter devido à sua classe social, orientação sexual, cor de pele, etnia, nacionalidade, identidade de gênero, pela presença de alguma deficiência e por aí vai.
E cabe tanta abobrinha em um “Eu não sou preconceituoso, mas…” que ele se tornou o novo “Amar é…”, presente naqueles livrinhos simpáticos da minha infância.
Duvida?
Eu não sou preconceituoso, mas bandido bom é bandido morto.
Eu não sou preconceituoso, mas baiano é foda. Quando não faz na entrada faz na saída.
Eu não sou preconceituoso, mas mulher no volante é um perigo.
Eu não sou preconceituoso, mas tenho medo desses escurinhos mal encarados qe pedem dinheiro no semáforo.
Eu não sou preconceituoso, mas cigano é tudo vagabundo.
Eu não sou preconceituoso, mas os gays podiam não se beijar em público. Assim, eles atraem a violência para eles.
Eu não sou preconceituoso, mas acho o ó ter um terreiro de macumba na nossa rua.
Eu não sou preconceituoso, mas é aquela coisa: não estudou, vira lixeiro.
Eu não sou preconceituoso, mas não gostaria de ver minha filha casada com um negro. Não por ele, é claro, mas eles sofreriam muito preconceito.
Eu não sou preconceituoso, mas esses sem-teto são todos vagabundos.
Eu não sou preconceituoso, mas chega de terra para índio, né? Se eles ainda produzissem para o país, mas nem isso acontece.
Eu não sou preconceituoso, mas esses mendigos deviam ir para a periferia onde não incomodariam ninguém.
Eu não sou preconceituoso, mas sabe como é esse pessoal de esquerda. É tudo petralha.
Eu não sou preconceituoso, mas sabe como é pessoal da direito. É tudo tucanalha.
Eu não sou preconceituoso, mas São Paulo é São Paulo, né amiga? Não é Fortaleza.
Eu não sou preconceituoso, mas esse aeroporto tá parecendo uma rodoviária.
Eu não sou preconceituoso, mas adoro esse shopping. Só tem gente bonita por aqui.
Eu não sou preconceituoso, mas sobe o vidro, amor. Você não tá nos Jardins.
Eu não sou preconceituosa, mas vocês não acham que essas médicas cubanas têm cara de empregada doméstica?
Cuidado, seja sutil. Preconceito é para ser dito, repetido e aplicado, mas com naturalidade. Diluído no dia a dia, aparece como uma forma de manter a ordem das coisas e de lembrar quem manda. E quem obedece.
Leonardo Sakamoto
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
O universo masculino e a naturalização do machismo!
A matéria do NE10 mostra o universo masculino e como naturalizamos as praticas machistas!
Juninho é um retrato de muitos homens que conhecemos, com certeza vocês vão identificar!!
Juninho é carregado pelos tios e logo seu pênis, mesmo diminuto, é louvado. "Pintão!". "Esse puxo ao tio!" As tias se apressam em arranjar um par para quem tem um dia de vida. "Agora a filha de Maria e João tem com quem namorar", diz uma. "Tem também a de Pedro e Juliana", lembra outra. Chegam logo a um consenso que ele dará conta de todas.
É garanhão. É homem. Surge a conclusão que ele estava virado para o lado direito, pois, nessa posição, poderia ficar de olho na menininha ao lado no berçário. Conversa vai conversa vem, alguém lança a teoria que quando ele chora as garotinhas se calam para escutar o grito másculo do conquistador.
Juninho é homem e como homem será criado. É uma família que nutre a testosterona, a macheza, com muito cuidado. Não podem fraquejar, por tudo a perder.
O menino cresce e é teleguiado na ordem. Bola e carrinho. Falcon e Comandos em Ação. Um dia Juninho tocou em uma Barbie. De imediato foi repreendido. "Não é para menino". Ele beijou um amiguinho na bochecha. Recebeu uma bronca maior. Roubou um beijo na boca da coleguinha. Quanta alegria dos pais, que fingiram desaprovar diante dos familiares da garota, mas comemoraram em casa o avanço do amado homenzinho. "Esse não nega. Vai pegar todas. Hehehehe!" Como o pai está feliz.
É gradual. Juninho aprende a ser homem, macho, como se espera, é o que tem que ser. O tio o abraça e pergunta: "Quantas namoradas já tem na escola?" Juninho responde: "Sete". O abraço fica ainda mais apertado. Respondeu assim... na obrigação, no escapa. De tanto ser questionado e ficar perdido sem saber o que falar, contou as amigas de classe e jogou o número na inocência. Foi premiado, viu que agradou. Tempos depois aumentou para oito. Mas comemorado ainda. Juninho fixou que quanto mais aumenta a soma, mais homenageado é.
Aprendeu. Homem tem que pegar muitas, tem que contar que pega muitas e aí causa contentamento. Mulher é feita para ser apanhada. Juninho já sabe que isso "é coisa de homem", que "homem é assim mesmo", "que quem quiser que prenda suas cabritas que o meu bodinho está solto". Juninho fixou.
Chegou na adolescência e tem consciência de que o mundo é machista, desde o começo é desse jeito, fim de papo. Ele dos que saem e paqueram. Dos que se ligam em uma garota e vão para cima. Dos que acham que a fêmea tem que ceder, que sua cantada é imbatível, que insistir é fundamental.
Juninho aprendeu com os parças que a mulher vai ali para ser incomodada, que ela faz doce, mas ela está querendo, que não tem que abrir para o beicinho dela, que macho que é macho não desiste. Ele já beijou forçando, puxou cabelo, levou tapa na cara e bateu de volta.
Juninho modelou a mente para identificar a menina para ficar e a para namorar. Normas que ele segue à risca, porque homem que é homem de respeito não se liga à vagabunda, não quer ouvir "tás com uma rodada?". Para namorar é a menina com menos fama de ficante possível. A comportada. A virginal. Para dar uns pegas é a liberta, a sem amarras, que ele conhece como piranha. A que não vai rejeitá-lo. A que taxaram como sempre disponível. Que é ir lá e pimba!, já pegou. Que se recusar ele tem o direito de reclamar: "Como assim ele ser recusado?", "Como assim aquela puta posar de difícil?". Juninho não entende. Não admite. Não foi o que lhe disseram desde sempre, está fora do eixo.
Não é o que lhe cobram. Juninho sabe que precisa corresponder. Caso algum requisito do macho ideal falte em sua ficha, ele tem que pagar. Preço, para ele, duro.
Se Juninho tropeçar diante da banca examinadora, que nunca para de fiscalizar, é chamado de gay. Instantâneo. Se fraqueja na caça sexual, é veado. Se usa um sapato fora das regras, é boiola. Se pede um chá na cantina da escola, é bicha.
Inadmissível para ele. Juninho foi doutrinado para pensar que, mas que tudo, homossexualidade é o que há de pior. Que seus tios e tias, primos e primas, avôs e avós, mãe e pai, sempre o guiaram no cabresto, com tanta pressão, tanta vigilância, tanto esforço, para evitar a desgraça. Que ele pode ser tudo. Machista, tarado, bandido, dar desfalque, trair um amigo, ser violento, mandar pessoas para o hospital. Tudo. Menos a desonra de ser gay.
Juninho treme apenas em pensar na possibilidade de que alguém bote sua macheza em dúvida. Nunca. Logo ele que para desmerecer chama logo de veadinho. Logo ele que vai para o estádio torcer e grita sem parar "Fulano, veado", "Time de mariquinhas". Que nem cogita ter um jogador homossexual manchando as cores de seu manto sagrado. Que caso ocorra vai ameaçar o cara,manda sair, já em pânico pela chacota que o adversário vai fazer pelo resto da vida.
Logo Juninho que não lava um prato, nem arruma a cama por ser trabalho de mulher. Logo ele que abusa dos gesto viris. Que abraça amigo quase na porrada para que o afeto não seja confundido com delicadeza. Que grita palavrão quando uma garota de minissaia passa, que coleciona Playboys, que de jeito nenhum chora porque nada a ver ser sensível, que transa mesmo sem estar a fim apenas para manter a reputação intacta.
Que acha que o mundo corre perigo de enveadar por causa dos direitos LGBTs. Que ficou sabendo que ativista homossexual é gayzista, que ser homofóbico é apenas bater em gays, que destratar, querer que continuem subcidadãos, subalternos, é defender o orgulho hétero, as famílias, a ordem natural. Que acha o mundo é hipócrita, já que ninguém quer ter filho gay, mas ficam defendendo.
Juninho é algoz e vítima. O mundo, que ele tanto acredita ser imutável, que como está deveria ficar, solidificou aos poucos, desde quando bateu suas primeiras palminhas, o que ele prega.
O mundo de Juninho é o de verdades velhas, fabricadas por interesse, de seus antepassados, que ele absorveu como suas. De que há pessoas subordinadas, que o lugar delas é aquele, que não têm nada que contestar. Elas têm é que se contentar.
Juninho é um rei. Está no lucro. Posto no topo da cadeia alimentar, em um ecossistema onde outros são presas. Para capturar, acasalar, procriar ou para destruir. Ele luta para perpetuar seu lugar dominante.
Juninho não atenta, em seu silêncio crítico e criativo, o quanto ele nada tem de atitude. De ele mesmo. É um papagaio, uma cópia. Um escravo, que asfixiou uma parte de si para dar satisfação, se moldar ao que se quer dele. É passivo.
Mas Juninho está nem aí, nem vai chegando. Raciocínios novos são frescuras de veado. Ficar lamentando injustiça é mimimi de veado. Homem bebe, arrota e dá no couro. E fica tudo bem.
Juninho tem mais é que se preocupar com o casamento que se aproxima. Com menina que ele desvirginou e engravidou. Não está muito na de juntar as escovas de dente, já caiu na greia dos companheiros, de que vai para a forca, que perder a liberdade, mas ele se compromete a não deixar a farra e a pegação. "Mulher em casa nada impede mulher na rua". E arranca gargalhadas. Se não der certo, separa e volta por completo para a curtição.
O importante é que Netinho nasce daqui a seis meses. Enxoval azul já encomendado. Max Steel e Hot Wheels na prateleira. Netinho vai puxar ao pai. Macho todo.
Juninho é um retrato de muitos homens que conhecemos, com certeza vocês vão identificar!!
Coluna: Juninho, um machista no capricho
Juninho nasceu. Dia de festa na família, de orgulho. O filho varão. Quarto azul, roupinhas azuis. Azul é o ursinho. Azul é o chocalho. Trata-se de um menino, homem, e tem logo que ser identificado com tal. Não deixar dúvidas.
Juninho é carregado pelos tios e logo seu pênis, mesmo diminuto, é louvado. "Pintão!". "Esse puxo ao tio!" As tias se apressam em arranjar um par para quem tem um dia de vida. "Agora a filha de Maria e João tem com quem namorar", diz uma. "Tem também a de Pedro e Juliana", lembra outra. Chegam logo a um consenso que ele dará conta de todas.
É garanhão. É homem. Surge a conclusão que ele estava virado para o lado direito, pois, nessa posição, poderia ficar de olho na menininha ao lado no berçário. Conversa vai conversa vem, alguém lança a teoria que quando ele chora as garotinhas se calam para escutar o grito másculo do conquistador.
Juninho é homem e como homem será criado. É uma família que nutre a testosterona, a macheza, com muito cuidado. Não podem fraquejar, por tudo a perder.
O menino cresce e é teleguiado na ordem. Bola e carrinho. Falcon e Comandos em Ação. Um dia Juninho tocou em uma Barbie. De imediato foi repreendido. "Não é para menino". Ele beijou um amiguinho na bochecha. Recebeu uma bronca maior. Roubou um beijo na boca da coleguinha. Quanta alegria dos pais, que fingiram desaprovar diante dos familiares da garota, mas comemoraram em casa o avanço do amado homenzinho. "Esse não nega. Vai pegar todas. Hehehehe!" Como o pai está feliz.
É gradual. Juninho aprende a ser homem, macho, como se espera, é o que tem que ser. O tio o abraça e pergunta: "Quantas namoradas já tem na escola?" Juninho responde: "Sete". O abraço fica ainda mais apertado. Respondeu assim... na obrigação, no escapa. De tanto ser questionado e ficar perdido sem saber o que falar, contou as amigas de classe e jogou o número na inocência. Foi premiado, viu que agradou. Tempos depois aumentou para oito. Mas comemorado ainda. Juninho fixou que quanto mais aumenta a soma, mais homenageado é.
Aprendeu. Homem tem que pegar muitas, tem que contar que pega muitas e aí causa contentamento. Mulher é feita para ser apanhada. Juninho já sabe que isso "é coisa de homem", que "homem é assim mesmo", "que quem quiser que prenda suas cabritas que o meu bodinho está solto". Juninho fixou.
Chegou na adolescência e tem consciência de que o mundo é machista, desde o começo é desse jeito, fim de papo. Ele dos que saem e paqueram. Dos que se ligam em uma garota e vão para cima. Dos que acham que a fêmea tem que ceder, que sua cantada é imbatível, que insistir é fundamental.
Juninho aprendeu com os parças que a mulher vai ali para ser incomodada, que ela faz doce, mas ela está querendo, que não tem que abrir para o beicinho dela, que macho que é macho não desiste. Ele já beijou forçando, puxou cabelo, levou tapa na cara e bateu de volta.
Juninho modelou a mente para identificar a menina para ficar e a para namorar. Normas que ele segue à risca, porque homem que é homem de respeito não se liga à vagabunda, não quer ouvir "tás com uma rodada?". Para namorar é a menina com menos fama de ficante possível. A comportada. A virginal. Para dar uns pegas é a liberta, a sem amarras, que ele conhece como piranha. A que não vai rejeitá-lo. A que taxaram como sempre disponível. Que é ir lá e pimba!, já pegou. Que se recusar ele tem o direito de reclamar: "Como assim ele ser recusado?", "Como assim aquela puta posar de difícil?". Juninho não entende. Não admite. Não foi o que lhe disseram desde sempre, está fora do eixo.
Não é o que lhe cobram. Juninho sabe que precisa corresponder. Caso algum requisito do macho ideal falte em sua ficha, ele tem que pagar. Preço, para ele, duro.
Se Juninho tropeçar diante da banca examinadora, que nunca para de fiscalizar, é chamado de gay. Instantâneo. Se fraqueja na caça sexual, é veado. Se usa um sapato fora das regras, é boiola. Se pede um chá na cantina da escola, é bicha.
Inadmissível para ele. Juninho foi doutrinado para pensar que, mas que tudo, homossexualidade é o que há de pior. Que seus tios e tias, primos e primas, avôs e avós, mãe e pai, sempre o guiaram no cabresto, com tanta pressão, tanta vigilância, tanto esforço, para evitar a desgraça. Que ele pode ser tudo. Machista, tarado, bandido, dar desfalque, trair um amigo, ser violento, mandar pessoas para o hospital. Tudo. Menos a desonra de ser gay.
Juninho treme apenas em pensar na possibilidade de que alguém bote sua macheza em dúvida. Nunca. Logo ele que para desmerecer chama logo de veadinho. Logo ele que vai para o estádio torcer e grita sem parar "Fulano, veado", "Time de mariquinhas". Que nem cogita ter um jogador homossexual manchando as cores de seu manto sagrado. Que caso ocorra vai ameaçar o cara,manda sair, já em pânico pela chacota que o adversário vai fazer pelo resto da vida.
Logo Juninho que não lava um prato, nem arruma a cama por ser trabalho de mulher. Logo ele que abusa dos gesto viris. Que abraça amigo quase na porrada para que o afeto não seja confundido com delicadeza. Que grita palavrão quando uma garota de minissaia passa, que coleciona Playboys, que de jeito nenhum chora porque nada a ver ser sensível, que transa mesmo sem estar a fim apenas para manter a reputação intacta.
Que acha que o mundo corre perigo de enveadar por causa dos direitos LGBTs. Que ficou sabendo que ativista homossexual é gayzista, que ser homofóbico é apenas bater em gays, que destratar, querer que continuem subcidadãos, subalternos, é defender o orgulho hétero, as famílias, a ordem natural. Que acha o mundo é hipócrita, já que ninguém quer ter filho gay, mas ficam defendendo.
Juninho é algoz e vítima. O mundo, que ele tanto acredita ser imutável, que como está deveria ficar, solidificou aos poucos, desde quando bateu suas primeiras palminhas, o que ele prega.
O mundo de Juninho é o de verdades velhas, fabricadas por interesse, de seus antepassados, que ele absorveu como suas. De que há pessoas subordinadas, que o lugar delas é aquele, que não têm nada que contestar. Elas têm é que se contentar.
Juninho é um rei. Está no lucro. Posto no topo da cadeia alimentar, em um ecossistema onde outros são presas. Para capturar, acasalar, procriar ou para destruir. Ele luta para perpetuar seu lugar dominante.
Juninho não atenta, em seu silêncio crítico e criativo, o quanto ele nada tem de atitude. De ele mesmo. É um papagaio, uma cópia. Um escravo, que asfixiou uma parte de si para dar satisfação, se moldar ao que se quer dele. É passivo.
Mas Juninho está nem aí, nem vai chegando. Raciocínios novos são frescuras de veado. Ficar lamentando injustiça é mimimi de veado. Homem bebe, arrota e dá no couro. E fica tudo bem.
Juninho tem mais é que se preocupar com o casamento que se aproxima. Com menina que ele desvirginou e engravidou. Não está muito na de juntar as escovas de dente, já caiu na greia dos companheiros, de que vai para a forca, que perder a liberdade, mas ele se compromete a não deixar a farra e a pegação. "Mulher em casa nada impede mulher na rua". E arranca gargalhadas. Se não der certo, separa e volta por completo para a curtição.
O importante é que Netinho nasce daqui a seis meses. Enxoval azul já encomendado. Max Steel e Hot Wheels na prateleira. Netinho vai puxar ao pai. Macho todo.
terça-feira, 27 de agosto de 2013
Matéria do "Folha Mulher" vem provocando polêmica!
Matéria do jornal Folha Mulher, vem sendo compartilhado no facebook com o polêmico titulo "Submissão de verdade é liberdade! Entenda o real papel da mulher dentro de um casamento." Uma visão da igreja Universal do que seria o papel da mulher no casamento, se apoiando em passagens da bíblia!
Podemos fazer um paralelo entre o filme que assistimos ontem "Acorda, Raimundo acorda!" e esse texto!
Num mundo onde cada vez mais as mulheres conquistam direitos e espaço no mercado de trabalho, chegando até a presidir nações, é no mínimo estranho falar de submissão, ainda mais quando o termo está relacionado ao sexo oposto. No entanto, a submissão de que falamos é muito diferente do conceito que muitas pessoas têm, e que se aproxima da escravidão.
Podemos fazer um paralelo entre o filme que assistimos ontem "Acorda, Raimundo acorda!" e esse texto!
Submissão de verdade é liberdade! Entenda o real papel da mulher dentro de um casamento.
Submissão de verdade é liberdade! Entenda o real papel da mulher dentro de um casamento.Num mundo onde cada vez mais as mulheres conquistam direitos e espaço no mercado de trabalho, chegando até a presidir nações, é no mínimo estranho falar de submissão, ainda mais quando o termo está relacionado ao sexo oposto. No entanto, a submissão de que falamos é muito diferente do conceito que muitas pessoas têm, e que se aproxima da escravidão.
Parceria e diálogo
Muitas
mulheres acham absurda e não aceitam a recomendação de que devem ser
submissas a seus maridos (leia Efésios 5:24), porque não compreendem
que isso não significa uma obediência cega, forçada ou insensata aos
desejos e caprichos do marido, mas sim uma boa vontade de,
voluntariamente, concordar com ele, em prol do bem do casal. Isso não
impede que a mulher discorde do marido em alguma situações.
"A mulher
pode ter a sua opinião própria, mas como companheira pode perfeitamente
conversar com o marido e juntos buscarem um consenso sobre qualquer
decisão. Consultar o parceiro é diferente de somente obedecê-lo",
explica a psicanalista Marina Massi.
A mulher
deve ser auxiliadora do seu marido e, nesse sentido, ser submissa
representa ser companheira, estar ao lado dele nos bons e maus momentos.
Via de mão dupla
Você pode
até duvidar, mas ser submissa tem muitas vantagens. A primeira delas é
que, como marido, o homem tem a obrigação de amar e defender a esposa e,
se for preciso, dar a vida por ela (leia Efésios 5:25).
Há um provérbio hebraico que diz: "Cuida-te
quando fazes chorar uma mulher, pois Deus conta as suas lágrimas. A
mulher foi feita da costela do homem, não dos pés para ser pisada, nem
da cabeça para ser superior, mas sim do lado, para ser igual. Debaixo do
braço, para ser protegida, e ao lado do coração, para ser amada."
A mulher
não é, e não deve ser, inferior ao homem, tampouco superior a ele. O
papel da mulher é estar e caminhar ao lado do homem. Ela deve ser sábia e
usar o seu poder de persuasão para influenciar seu marido, que é o
líder do lar, a tomar decisões acertadas.
Respeito e consideração
Cristiane Cardoso, apresentadora do programa "The Love School" (sábados,
meio-dia, na Rede Record) ao lado do marido, Renato Cardoso, explica no
livro "Casamento Blindado" (de autoria do casal) que no dia a dia
muitas mulheres assumem uma postura submissa diante de chefes,
autoridades e outras lideranças que nem sempre conhecem pessoalmente.
Porém, quando se trata de ser submissa ao marido, elas não admitem e se
rebelam.
Recentemente, a jogadora de vôlei norte-americana Gabriella Reece, que foi muito criticada por ter dito que
era submissa ao seu marido, deu uma entrevista exclusiva ao "The Love
School". Ela explicou que o conceito de submissão a que se referia não
tinha nada a ver com ser um capacho de seu esposo, mas sim era de
incluí-lo em suas decisões, não se diminuir perante ele, mas apoiá-lo
diariamente, pois o respeito deve sempre estar presente em uma relação
saudável.
"O respeito e a consideração estão
relacionados aos sentimentos de atenção, lealdade, fidelidade,
resguardo, dedicação e admiração. Eles estimulam uma relação saudável
entre o casal", esclarece a psicanalista Marina Massi. Ela destaca que,
hoje em dia, os papéis estão muito confusos e, às vezes, até trocados
dentro de um casamento, o que pode levar marido e mulher a se
desentenderem. A solução para um problema desse tipo só vem com muito
diálogo e paciência: "Conversar para que, aos poucos, a cumplicidade e o
companheirismo sejam criados pelos dois", orienta.Fonte: Arca Universal!
Revista Capricho: quando o machismo confunde vergonha em dizer não, com a violência de exigir o sim!
A revista Capricho, lida por milhares de
jovens brasileiras, já é conhecida por manter estereótipos machistas do
papel da mulher na sociedade, na beleza, na paquera… Entretanto, a
matéria publicada no final do mês passado com o título “Fiquei com
vergonha de dizer não” passou dos limites, vem sendo bastante comentada
no facebook e merece uma reflexão. Estamos tratando de uma revista que
forma a opinião de uma juventude ainda insegura com seu corpo e
sexualidade. Segundo a Capricho, tal matéria seria o relato da primeira
vez de uma garota que não foi um conto de fadas. Na verdade trata-se de
outra situação: O nome dessa matéria deveria ser algo do tipo “minha
primeira vez foi um estupro: fui forçada mesmo não querendo”.
Em um UPDATE tardio a revista se defende e diz “Entendemos
que é nossa função instruir e munir adolescentes de autoestima e
conhecimento para que enfrentem com mais tranquilidade os dramas
relacionados à sua sexualidade. (…) De depoimentos como este, as garotas
tiram lições que serão aplicadas em sua vida. A deste post é: “não faça
nada contra a sua vontade” ou “tenha coragem de dizer não – ou você
pode se arrepender para sempre”. Ironicamente o nome da página na
internet é “Sexo – Perguntas e respostas” e qual foi a saída apontada
pela revista pra resolver o problema da tal “primeira vez ruim”? A
resposta pro estupro foi a vítima esperar o príncipe – aquele que não a
violentaria. Ou seja, ou espere o príncipe ou arrependa-se para sempre –
calada ou no máximo escrevendo um relato pra uma revista famosa.
Em primeiro lugar, reafirmando o
conteúdo tradicional e machista da revista, coloca a mulher no papel de
princesa na torre a espera do par perfeito, ou seja, enclausurando a
sexualidade feminina no alto do reino de Camelot a espera da espada
encantada. Como se o prazer feminino fosse dependente de um apego
emocional, romântico, submisso, diante da figura do masculino. Quando a
revista esquece de orientar o mais importante e único critério absoluto
para o prazer da mulher: seu consentimento diante da situação,
independente de como ou com quem seja- o critério é justamente ela dizer
sim!
Em segundo lugar, a revista assume saber
ser formadora de auto-estima e conhecimento. Nessa perspectiva, a
Capricho teria outra postura se tivesse algum ideal em orientar as
meninas a partir de uma visão auxiliar na quebra dos preconceitos da
sexualidade feminina, da heteronormatividade machista, munindo as jovens
a nunca aceitar ou naturalizar qualquer tipo de violência e se tornar
responsável pelas decisões que toma sobre seu corpo. Deveria orientar a
vítima que escreveu esse relato e meninas que passaram por algo
semelhante a procurarem uma delegacia da mulher e denunciarem o crime –
inclusive disponibilizando abaixo da matéria endereços das principais
delegacias do país.
Esse tipo de matéria, transvertida de
libertadora – afinal, mulheres falarem de sexo ainda é um tabu – cumpre
um papel extremamente conservador, reproduzindo a cultura do estupro que
vivemos no Brasil. Onde “goleiros Brunos” ou Gerald Thomas se sentem a
vontade pra matar amantes, enfiar a mão nas partes íntimas de repórteres
e depois se arrepender e culpar a vítima que ‘provocou’. Não há espaço
para mensagens implícitas – como a Capricho diz que deixou no UPDATE que
fez após a matéria – ou para o silencio.
Nós, da Assembleia Nacional de
Estudantes – Livre, achamos que a mensagem da Capricho está muito clara,
que a revista reproduz os padrões machistas que oprimem as mulheres
jovens diariamente e que diante de uma matéria como essa é preciso
repúdio! Esse tipo de matéria não só naturaliza como incentiva essa
cultura, portanto, a Capricho torna-se tão culpada quanto aquele que
comete o estupro, pois o consente e estimula por meio da naturalização.
É inegável que a Capricho não é a única,
e que essas revistas são formadoras de opinião. Mas também não há como
negar que, em geral, elas moldam a sexualidade de várias meninas
afirmando a relação de submissão machista. “Como agradar seu paquera?”;
“Ele não está afim de você: descubra o que está fazendo de
errado?”;”Truques para agarrar seu boy”; e por aí vai… O combate ao
machismo, a batalha pelos direitos iguais para as mulheres, também
perpassa combater esses tipos de matérias que circulam na internet
fazendo a cabeça da juventude que a lê.
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